Polo de Excelência do Café
A Associação dos Agricultores Familiares de Santo Antônio do Amparo (AAFSAA) comemora a venda de um lote de 180 sacas de cafés provenientes de oito propriedades, diretamente para uma importadora americana. A comercialização, de maneira inédita, revela uma série de conquistas, além de um ágio em torno de R$ 100,00 por saca. Reforça, sobretudo, a ideia de que a união dos produtores familiares é uma alternativa para a ampliação da qualidade do produto, para formação de lotes unificados e para o escoamento da safra de forma mais ordenada. A criação da Associação foi incentiva pelo Projeto Força Café, da Fundação Hanns Neumann Stiftung do Brasil.
Na coordenação de quatro projetos que visam à inclusão da agricultura familiar no mercado de café diferenciado (apoio financeiro CNPq), a pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), Sara Maria Chalfoun de Souza, está otimista. Em sua avaliação, a informação foi o fator fundamental que garantiu um produto diferenciado, com redução dos custos de produção e a abertura de um novo mercado.
À espera da construção de uma unidade comunitária de processamento do café, o salto de qualidade do produto final foi significativo apenas com a adoção de práticas de colheita e pós-colheita sugeridas pelas pesquisas. Na primeira análise sensorial realizada no lote total, alguns apresentavam bebida dura e outros apenas mole. Com a uniformização do café em apenas dois lotes, foi possível a formação de 180 sacas de café fino, que atingiu 84 pontos na escala da Specialty Coffee Association of América (SCAA), atraindo a atenção de um comprador americano. A negociação teve o apoio da exportadora Sancoffee, sediada em Santo Antonio do Amparo.
A diferença na comercialização desta safra foi que o produtor pode driblar as barreiras do segmento familiar, sobretudo, no que tange à baixa escala de produção e a falta de informação técnica e comercial. Historicamente, estes produtores vendiam a produção para intermediários, antes mesmo do beneficiamento, sem agregar valor ao produto. Na última safra, o apoio da pesquisa surtiu efeito desde o manejo da lavoura, com o monitoramento de pragas e doenças, que minimizou o uso de defensivos e resultou na redução de custos de produção.No período pós-colheita, os produtores tiveram a ajuda de novos lavadores (adquiridos pelo projeto) e foram orientados a separarem os grãos de café para a secagem mais adequada a cada tipo. Depois, o café foi levado para uma das fazendas, onde foi realizado o beneficiamento visando à venda conjunta. De acordo com Sara Chalfoun, este foi apenas um piloto, para serem avaliados os benefícios e os desafios da venda conjunta. Para a próxima safra, a pesquisadora anuncia a possibilidade de lotes maiores, com contêineres fechados de produção 100% familiar, o que deverá atrair ainda mais a atenção dos compradores.
Além do resultado positivo da comercialização conjunta e da adoção de tecnologias de baixo custo de processamento, os demais projetos em andamento prevêem ganhos complementares. A Associação está se organizando para a certificação no comércio justo (Fair Trade), o que vai abrir um novo canal de comercialização com benefícios para toda a comunidade. Recém aprovado, a Associação também será contemplada com a validação de um modelo de gestão participativa e inclusão digital dos cafeicultores familiares.