terça-feira, 26 de agosto de 2008

Ir a Romaria e encontrar Patrocínio

É impossível ficar indiferente ao fenômeno da romaria em devoção a Nossa Senhora da Abadia. O dia da Virgem, comemorado no dia 15/08, marca o ápice da peregrinação em seu louvor mas a presença de romeiros nas estradas e agitação em torno de seu santuário começou muito antes. Fiéis de todo o Triângulo Mineiro, do Alto Paranaíba, do sul de Goiás e do Mato Grosso formam os maiores grupos. Há seis dioceses e quarenta a duas paróquias com o nome de Nossa Senhora da Abadia distribuídas por seis estados brasileiros. O número de cidades e vilas que a têm como padroeira chega às dezenas. Em Patrocínio, não há quem não conheça alguém que participa da peregrinação.

É importante notar que a devoção a Nossa Senhora da Abadia tem quase 1300 anos. Os primeiros registros nos remetem a Portugal no século VIII (ano 730). No Brasil, desde 1718 ela é padroeira de Jandaíra, diocese de Alagoinha, na Bahia. A chegada de mineradores portugueses a Muquém, hoje distrito de Niquelândia, Goiás, por volta de 1765 deu início à devoção na região. Quando Bernardo Guimarães escreveu o romance “O Ermitão de Muquém” em 1865, a romaria já era uma das maiores do sertão.

Em Romaria, Minas Gerais, a devoção tem mais de 130 anos. A cidade que levou o nome de Água Suja e era distrito de Bagagem, surgiu com a chegada de homens que fugiam da convocação para a Guerra do Paraguai (1864-1870). Em 1867 foi encontrada uma mina de diamantes o que estimulou o povoamento da região. Os fundadores do povoado eram devotos de Nossa Senhora da Abadia e viajavam até Muquém para prestar suas homenagens. Mas as dificuldades eram quase insuperáveis e com a autorização do Bispo de Goiás, responsável pela diocese de Muquém, em 1870 foi construída a primeira capela na própria vila. Desde então romeiros de toda a região se dirigem para Água Suja. Em 1874, foi erguido um novo santuário e em 1938 a cidade passou a se chamar Romaria.

A romaria e a devoção a Nossa Senhora da Abadia são parte da identidade de Patrocínio. A própria criação da cidade é resultado do mesmo processo histórico que deu origem às romarias na região. As tradições, os valores, a religiosidade, os costumes são todos afetados por essa devoção. Mesmo os que não são devotos, não fazem romaria, não são católicos e mesmo os que não são cristãos, todos tem contato íntimo com essa herança. O período de romaria é a demonstração mais explícita da devoção que, por sua vez, é parte do que significa ser patrocinense.

(Pesquisa baseada em José Zica dos Santos)

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