segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Sou Devoto do Chico Equilibrista

Passei a última semana procurando um espaço de reflexão, debate e articulação para o Desenvolvimento em Patrocínio. Instigado pela realização do Fórum Social Mundial e do Fórum Econômico Mundial, olhei ao meu redor tentando entender se na nossa realidade local temos algo similar a um dos dois ou, ingênuo de tão otimista, um espaço que conseguisse unir ainda mais que os fóruns citados acima. São, sem nenhum exagero, duas das reuniões mais importantes “do mundo” e procurei e quis encontrar similares por aqui. Pedi a São Francisco, Chico Buarque e a Chico Science para me ajudarem. Ainda não encontrei.

O Fórum Social Mundial – FSM, é, segundo seu próprio site, “um espaço plural, diverso, não governamental e não partidário que estimula o debate descentralizado, a reflexão, a construção de propostas, a troca de experiências e alianças entre os movimentos e organizações engajados em ações concretas por um mundo mais solidário, democrático e justo.” O Fórum Econômico Mundial – WEF por sua sigla em inglês (mais usada) é, também usando informações oficiais, “uma organização independente, comprometida com a melhoria do estado do mundo pelo envolvimento de líderes em parcerias para moldar as pautas setoriais, regionais e globais. O Fórum é uma fundação imparcial, sem fins-lucrativos, apolítica, apartidária e sem vínculos nacionais”.

Não há espaço para muita ingenuidade ao olharmos para ambos. O FSM não é uma reunião de neo-hippies anti-globalização, não é uma reunião de idealistas românticos salvadores do mundo, nem uma reunião de santos. O WEF não é uma reunião de políticos e empresários preocupados só em ganhar mais poder e dinheiro, não é uma grande conspiração dos donos do mundo nem é uma reunião dos piores vilões. Não só. É natural, bom, saudável e inevitável que grupos sejam heterogêneos. Para evitar outras explicações mais sofisticadas e interessantes, simplesmente porque são compostos por gente. Vale para o grupo de amigos do carteado, para o grupo da novena, para a galera da pelada e, claro, para reuniões de milhares de pessoas tratando de assuntos que afetarão outros bilhões de pessoas.

Olhando para essas reuniões, tento encontrar algo similar em Patrocínio. Por falta de conhecimento de meu lado ou por falta de visibilidade do outro lado, não consigo. Há uma série de organizações bem conhecidas, ativas, importantes para a cidade que poderiam ser vistas como potenciais participantes tanto FSM quanto do WEF – consideradas as proporções e diferenças, claro. Mas vejo organizações da sociedade civil dedicadas à assistência social, à proteção de crianças, de jovens, de mulheres; vejo organizações dedicadas ao meio-ambiente, ao comércio justo, ao fortalecimento da própria democracia. Vejo também, do lado WEF, os líderes políticos e empresariais, as instituições patronais, de proprietários, patronais e afins. Aqui tampouco, cabe muita ingenuidade: a farinha de cada saco não é exatamente igual. As pessoas e interesses variam muito. Mas, essas organizações seriam os participantes dos Fóruns. Não vejo o espaço que as une. Mesmo pensando nesse corte FSM x WEF, não consigo encontrar um espaço que integre, permita e, na verdade, estimule o diálogo entre essas pessoas e suas organizações em Patrocínio.

Não está escrito em lugar nenhum que esse espaço seja obrigatório. Mas tenho sérias dúvidas de que sua ausência não seja um entrave a esforços sustentáveis de Desenvolvimento (assim mesmo, maiúsculo). Os participantes do FSM e do WEF serão forçados, invariavelmente, a debater suas posições após as reuniões porque vivem no mesmo mundo. O ideal democrático pretende que o embate entre grupos de interesse diferentes – quando praticado dentro de regras consensuais inclusivas – promova o equilíbrio entre as forças e o bem coletivo. Todos sabemos, no entanto, que os regimes democráticos estão muito distantes desse ideal. Há diferenças gritantes entre a capacidade de pessoas e grupos distintos em influenciar o regime. Em muitos desses casos, esse desequilíbrio de capacidade é usado para oprimir, explorar ou até anular outros grupos e a resistência que eles podem representar. Alguns diriam que essa é a ordem natural das coisas. Reforço, tenho sérias dúvidas em relação a qualquer forma de organização que não busque o equilíbrio.

Apesar do equilíbrio ser natural, ele não acontecerá por si só. Somos bombardeados a todo momento por instituições que reforçam os ideais de divergência, conflito e hierarquia. Todos os dias, recebemos reforços nessas lições e nos comportamos de acordo sem nos darmos conta. Sou devoto dos Chicos que sabiam bem disso e pregaram o equilíbrio. De Assis, Buarque e Science,

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