quarta-feira, 22 de abril de 2009

Corda Para Se Enforcar

O dia de Tiradentes chegou para nos mostrar que estamos com a corda no pescoço. Com o perdão do trocadilho, mas pensar em heróis e olhar a realidade imediata pode ser asfixiante. Heróis nos dão exemplos de comportamento e reforçam valores morais. Olhando ao redor, é difícil vermos esses exemplos sendo seguidos. Mesmo pensando que heróis são apenas o que gostaríamos que fossem. Ou o que queremos que sejam. Ou apenas o que queremos ver. São personagens construídos de acordo com um período histórico específico, com a conjunção de forças sociais no sentido amplo de “sociais”. Nossa prática – no mundo, no país e em nossa cidade – não mostra muito alinhamento entre o que louvamos e o que fazemos. Estamos projetando em outros os valores que gostaríamos de ter, agimos de maneira diferente e isso pode nos deixar sem fôlego quando mais precisarmos.

Essa divergência é uma hesitação sobre os próprios valores morais. Heróis, por definição, são “extraordinários por seus feitos guerreiros, seu valor ou sua magnanimidade”. Podemos – e a bem da verdade, devemos – questionar os heróis que nos são apresentados. Mas por outro lado, se nos vemos sem heróis ou com visões opostas sobre o mesmo personagem histórico, isso pode indicar falta de guias morais fortes ou a convivência de morais opostas. A diversidade de valores, visões, opiniões será sempre bem-vinda. Num contexto democrático, a oposição de posições ideológicas servirá sempre para amadurecer o debate e fazer com o que resultado do debate seja mais maduro, consistente e melhor para o coletivo. Resta saber por que hesitamos diante da idéia de que quem mostra coragem e se dispõe ao auto-sacrifício em nome de um bem maior é um herói. Resta saber se temos clareza sobre quais valores buscamos em quais heróis e quais valores praticamos.

Resta saber também se buscamos heroísmo ou valores nobres no outro e não em nós mesmos. Sem romantismos ou pieguices. Mas frequentemente criamos uma imagem messiânica dos heróis que nos tira toda capacidade, toda participação e toda responsabilidade; transfere para o outro a coragem, o auto-sacrifício, o compromisso com os ideais entregando-os a um salvador, a um escolhido com “super-poderes” e apoio divino. Tudo bem, heróis são mais antigos do que a escrita em culturas de todo o mundo. Messias então, nem se fala. Budismo, Cristianismo, Hinduísmo, Islamismo, Judaísmo, todas as grandes religiões trabalham com esse conceito. Algumas ideologias políticas também têm seus messias mesmo que, por vezes, apresentados como “ciência”. Como dito acima, “força sociais”... Mas quando passamos a esperar que todas as soluções venham desse herói salvador, quando não nos dispomos a trabalhar ou a contribuir as conseqüências são gravíssimas.

A mais importante é como resolvemos nossos problemas. Esperamos que outros encontrem a solução e acreditamos que os problemas foram provocados por outros também. Sempre queremos saber a quem apresentamos a conta, de quem é a culpa pela situação do mundo, do Brasil e até da nossa rua. Esperamos que a solução venha do outro, venha de fora. “Alguém tem de resolver isso! Alguém tem que fazer alguma coisa! Quem é que cuida disso?”. Evidente que há mesmo que se cobrar responsabilidades, o cumprimento de funções, o exercício de poderes delegados. Isso é parte do bom exercício de cidadania.

No entanto, é muito mais comum nos depararmos com a tentativa constante de se isentar de responsabilidade, com a recusa em se envolver e com a acomodação resignada. Claro, hoje temos instituições, representantes eleitos, mecanismos de ação coletiva. Mesmo assim, ainda vemos muita gente esperando que Obama, Lula e seus similares resolvam seus problemas sem assumir qualquer responsabilidade pela solução. Acreditem no que quiserem. Acomodar-se e esperar heróis ou salvadores é dar corda para se enforcar.

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