– Imagine um mundo – prosseguiu o roteirista – em que o cidadão espere que o respeito que lhe prestam não seja um bem a ser adquirido pela sua postura pessoal, mas um serviço dos outros que cabe ao governo fazer cumprir. Um mundo em que a proliferação de direitos individuais acabe cerceando o bem comum, ao invés de promovê-lo.
Uma ruga de compreensão e assombro formou-se na testa do diretor.
– Num mundo assim – ele disse, – os pais processam a polícia pelos delitos dos filhos.
– Isso mesmo – celebrou o roteirista. – Uma sociedade litigiosa. Numa sociedade dessa natureza todos se tornam delatores potenciais de todos, precisamente como, digamos, no totalitarismo soviético. A diferença é que o que motivava um delator soviético era o fato de que todos os direitos haviam sido subtraídos de todos; numa sociedade litigiosa o que motiva o delator é que todos os direitos foram outorgados a todos. O negativo é agora positivo.
– E portanto mais atraente.
– E portanto irresistível. A vigilância é onipresente, não porque o governo está em todo lugar, mas porque o povo está.
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