quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Dom Quixote ou Sancho Pança?

Por Mônica Nunes

Durante algum tempo acreditei que a casa que tivesse livros teria como hábito a leitura e conseqüentemente o saber .Até que ouvi : “aqui em casa tem esse tanto de livros , ninguém gosta de ler ,acho que vou doar para alguma biblioteca .Hoje é tudo informática “

Ou seja os livros enfileirados em prateleiras serviam como peças de decoraçã, fechados ,imóveis,abandonados ,destinados ao esquecimento.

Percorri aqueles livros, alguns centenários, coleção inteira de Lobsang Rampa, Machado de Assis, Jorge Amado, Mario Quintana, Monteiro Lobato , enciclopédia Delta –Larousse, dicionário Caldas Aulete, livros de Drummond.

Uma biblioteca para ninguém botar defeito! Agora sem o interesse dos próprios moradores, só não pedi para mim por que a proprietária havia dito antes que iria doar para alguma biblioteca.

O livro particular mais antigo que tive em mãos foi o Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes, editado em 1929, em castelhano, que pertenceu ao meu avô materno. Talvez seu livro de cabeceira para enfrentar esse período. Fiquei encantada quando o encontrei páginas amarelas pela ação do tempo e o mesmo conteúdo da edição original, a espera de um leitor.

Tomando conhecimento que a biblioteca Municipal foi totalmente reestruturada, a Casa Lar inaugurou uma biblioteca infantil e telecentro, o Lar das Crianças recebeu a doação de uma biblioteca particular, começo a acreditar que o gosto pela leitura vai pouco à pouco acontecendo e isso é ótimo!

A senhora Maria Helena Bitencourt Neiva residente em Niteroi doou seu acervo para o Lar das Crianças, através do clube Lilian Brandão, sem nunca conhecer Patrocínio, demonstrando que ações positivas ultrapassam espaços, geram o bem, sem olhar a quem .

Além dessa doação o Lar das Crianças recebeu também 800 livros didáticos do ex conselheiro tutelar Marcos Jose, confirmando que doar tem que ser um ato voluntário, independente da situação vivida, não se resume ao aqui e agora.

Abro um parenteses para sugerir que a Secretaria de Educação contrate alguém para trabalhar na Casa Lar no setor de pedagogia ,uma revindicação antiga e agora com a criação do espaço completaria essa carencia .

Màrio de Andrade ao dizer :” a biblioteca, em vez de esperar pelo público, deve ir em busca do seu público onde este estiver" e não tem melhor público do que as crianças .

Tomara que as crianças destas instituições usem e abusem destes livros ,antes de empolgarem com a informática.,com o clicou ,achou. O bom seria criar aqui no Município um projeto onde as crianças passariam o dia em uma biblioteca com atividades lúdicas , vivenciando histórias , recitando poemas , conhecendo autores .

Um dia na biblioteca seria o caminho para conviver , conhecer ,um incentivo a leitura e a cultura .

Muitos só procuram uma biblioteca para pesquisar trabalhos escolares .Quando na verdade aquele espaço é por si grandioso ,cheio de histórias ,de causos , de romances , poesia ...palavras escritas ávidas por um público.

Tem gente que diz :”tenho preguiça de ler “.

Tem gente que espalha :” a informática é muito melhor “

Tem gente que afirma ;" livro ainda é muito caro "

Questão de escolha !

Para mim quem tem um livro não tem solidão ,viaja sem sair do lugar ,sonha , emociona , fica livre ,cresce , compartilha !

Quem sabe por aqui não aconteça também o nascimento de outros Dom Quixotes e assim o envolvimento com os ideais de amor ,paz e justiça ou quem sabe a figura de Sancho Pança a nos trazer para a dura realidade: é preciso urgente despertar as crianças para a leitura .

De qualquer maneira precisamos dos dois, lado a lado, um convidando a sonhar e outro a viver o real .


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