"Se cultura lhe diz respeito, sua opinião nos interessa"
A princípio pensei que a divulgação não surgisse efeito, tudo quase em cima da hora. Mas ao entrar no Colégio Berlaar dezenas de pessoas aguardavam a 1ª Conferência Municipal de Cultura. No mesmo espaço pessoas ligadas ao Grupo Movimento de Rua, Academia Patrocinense de Letras, Escola de Samba, Congado, Folia de Reis, música, teatro, artesãos, homens públicos, professores, profissionais autônomos, enfim agentes da mudança!
Ao receber o crachá de identificação com um ponto verde fui sorteada para participar do Eixo: Cidade, Cultura, Cidadania, cai justamente onde queria, bela coincidência!
O grito foi um só:“é preciso incentivar a cultura no Município, com apoio amplo geral e irrestrito dos três Poderes”.
A diversidade de opiniões enriqueceu o encontro. Ouvir o pensamento coerente do menino Álvaro de 10 anos estudante do Colégio Berlaar à respeito da necessidade da valorização da cultura existente no meio rural. Ao desabafo emocionado do Sr Clovis, integrante da Escola de Samba Senzala de Ouro:“o samba não é feito para ser apresentado naquele espaço que fizeram lá em cima. Ali não tem como passar o movimento. A gente sente uma dor ao ouvir que grupos de fora vão apresentar por aqui tudo pago e bem pago, fazendo o carnaval dessa cidade. Mas que carnaval é esse, gente? O samba precisa de avenida!”
O desabafo das meninas (bonitas) do bairro Serra Negra e os meninos (criativos) do movimento de rua (Hip hop) retratando a realidade deste Município:“a gente fica triste de ser tratada com preconceito. Quando a gente conhece alguém aqui da cidade e pergunta onde mora? Respondemos: Serra Negra. Aí todo mundo pensa que a gente é bandido”. Tiago ressaltou : “perdemos o espaço para apresentar nossa dança que era ali na Acarpa e agora onde vamos? A gente não gosta de ser visto como marginal. Eu já fui discriminado na entrada de um evento da cidade. Só por que visto assim?”
Aí foi a vez de Fernando do Congado e Folia de Reis deixar o recado: “já passa da hora de valorizar os movimentos afro, os grupos de minoria, a diversidade. Descentralizar, criar espaços nos bairros, um apresentando no bairro do outro”.
O apoio foi geral: a criação de um programa abrangente de política pública comprometido com a cultura, esporte, educação. Valorizando experiência, resgatando a tradição, divulgando características próprias, traçando o perfil, mapeando a cultura do Município (urbano e rural).
Aí sim a cidadania seria um DIREITO de todos.
Mas, para isso é preciso a criação de LEIS MUNICIPAIS, para banir de vez a história um faz o outro esquece, não leva à diante!
Então o que a gente pode fazer?
*Criação de um calendário Municipal Cultural unificado e permanente de Eventos com a valorização de manifestações populares, artistas locais, com total apoio do Poder Público (cultura itinerante).
*A criação do Conselho Municipal de Cultura
*A adequação e instalação de Espaço Cultural para manifestação de todas as “tribos” todas as “vozes”.
*Destinar uma verba de incentivo à cultura, estabelecer parcerias
*Fazer planejamento, buscar orientação.
*Incentivar as comunidades rurais a criarem seu espaço cultural, com valorização dos costumes locais, de pratos típicos, festa religiosas, dialeto, rezas, bênçãos, tradição.
Ao terminar a Conferência, além de toda troca de informações, constatei ao vivo e a cores: todos ali estão ávidos por Cultura, pela recuperação e valorização.
Cultura é liberdade, é expressão, é espaço, é direção!
Cultura é mobilização, é crença, é canto, é união!
Cultura é a priorização das pessoas como agentes para a mudança!
A cidade que consegue conciliar cultura, educação, incentivo público e planejamento tem qualidade de vida sim!
Tem gente criativa, persistente, divergente, sendo a divergência o maior patrimônio cultural.
Tem o encontro de tudo em benefício de todos!
Somos ao mesmo tempo artistas e autores, com olhares carentes: a hora é agora, o tempo de construir chegou.
Monica Othero Nunes
PS: Aproveito para deixar meus parabéns ao Secretário Municipal de Cultura, Flávio Arvelos e todos que trabalharam para a realização deste Evento. Os frutos em breve serão colhidos e distribuídos de forma justa e democrática.
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