quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Se essa rua fosse minha...

Mônica Nunes por email

Quem vem de fora seja para visita familiar, negócios ou trabalho faz a seguinte observação:

" - Patrocínio é uma cidade bonita, ruas planas, tempo estável, gente acolhedora."

Quem aqui reside tende a espalhar:

- Patrocínio não tem nada para se fazer. Está parada no tempo, precisa de muita coisa. A culpa é dos políticos e do povo que elege os mesmos, sem pensar ou se deixa levar.

Entre essas duas considerações existem situações bem diferentes. A de quem passa por aqui independente do motivo e a de quem reside aqui. Não sabemos quantas pessoas vieram de outras cidades nestes últimos anos. A cidade não apresenta nenhum estudo sobre isso mas entendemos que unir essas duas situações seria um grande benefício em todos os aspectos. Se alguém veio transferido devido ao trabalho, comprou "terras”, veio tentar a "sorte”, se aposentou e quis morar numa cidade calma, se casou com alguém daqui, são situações que passam pelo mesmo prisma: moram em Patrocínio e deveriam colaborar para a qualidade de vida.

Alguns anos atrás era normal conhecermos os vizinhos, os donos de estabelecimentos comerciais, os gerentes de banco e até o delegado. Hoje a situação passa: se acontecer de você precisar, você conhece; se não, deixa como está. Cada um na sua.

Se quem aqui reside habitua com conseqüência de “achar” que a culpa é dos políticos, joga-se fora algo construtivo que é o cidadão inserido no dia a dia de onde mora. É como se projetasse no outro a responsabilidade de fazer algo e eliminasse a condição de participar deste processo. Podemos agir como hienas seguindo a reclamar “oh dia oh noite” Podemos adquirir mesmo o comportamento daquele camundongo que para superar a angústia de morrer na boca de algum predador pediu ao mágico para transformá-lo em diferentes animais para escapar da morte. Até que o mágico percebeu que a raiz da angústia estava na falta de atitude e decidiu deixá-lo como camundongo :

- Nada que eu faça por você vai ajudá-lo, porque você tem apenas a coragem de um camundongo.

É preciso coragem para romper com o projeto que nos é imposto. Mas saiba que coragem não é a ausência do medo, é sim, a capacidade de avançar.

Não tem nada mais rico do que a mobilização em torno da mudança de comportamento. Jogar fora fórmulas ultrapassadas que esmagam a capacidade que todos têm de escolher o que querem para sua vida pessoal, familiar, profissional. Para aqueles que "acham" que Patrocínio precisa de muita coisa, que tal começar a se organizar na rua em que mora? Que tal buscar o vereador que você votou e pedir explicação por que ainda não foi feito algo primordial no bairro que você mora? Diante do pedido de voto para algum candidato daqui ou de fora, fixe olho no olho, sinta o compromisso com as causas coletivas e não com a permanência no poder, jogo de vaidades, poderio financeiro, o favorecimento de cargos, o ganho com obras públicas.

Ou você acha que esse dinheiro usado na campanha vem do bolso do candidato?

Os políticos embora sejam os representantes eleitos pelo povo, podem, graças à escolha de cada um, perder ou ganhar a condição de representante. O voto é apenas um mecanismo no processo democrático. A situação vai mudar quando todos começarem a "se intrometer” em situações que interferem no dia-a-dia.

- Por que não sinto segurança no bairro que moro?
- Por que tenho que esperar para conseguir vaga para cirurgia?
- Por que trabalhei tanto e ainda tenho que provar que estou doente para aposentar, passando por inúmeras perícias?
- Por que essa obra custa esse valor?
- Por que demitiram aquela diretora?
- Por que pago tantos impostos?
- Por que até hoje não fui selecionado para o programa habitacional?
- Por que meus filhos sofrem com a discriminação?
- Por que em pouco tempo um político dobra seu patrimônio?
- Por que é tão fácil financiar a compra de um veículo?

É preciso, antes de culpar os políticos e o povo, entender o que é hoje a política e o povo no Brasil. Dizer que o povo "não sabe votar” somente reproduz o preconceito autoritário e elitista. A verdade é que os políticos continuam no poder com paralelos distorcidos, manipulação voltada para causas próprias por que nós, enquanto sociedade e eleitores, não acreditamos que podemos mudar este quadro. A conscientização política deve começar dentro de casa, o tempo todo, não apenas em ano eleitoral, uma vez que nossa escolha levará ao nosso objetivo.

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