segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Leis do Futebol para um resultado eleitoral

Por Elio Gaspari

Hoje à noite será conhecido o próximo presidente da República. Desde 1989 não se via uma campanha terminar de forma tão divisiva e oca. O estudo do mapa eleitoral permitirá que se chegue a explicações políticas e sociais para o resultado. De todas, a de alta toxicidade e baixa honestidade será aquela que atribuirá a derrota ao marqueteiro.

Nenhuma explicação superará a mais elementar constatação: o povo foi chamado, cada cidadão teve direito a um voto, eles foram contados, e foi eleito quem teve mais preferências.


A pobreza da campanha durante o segundo turno criou terreno fértil para uma perigosa radicalização.


De um lado e de outro surgiram vozes, ainda tímidas, discutindo a legitimidade do mandato. Em alguns casos, vocalizam um paradoxo: o
resultado de hoje pode colocar em risco a democracia brasileira. Fica difícil entender como uma eleição pode ameaçar a democracia.

Esse tipo de raciocínio embute, necessariamente, a desqualificação do voto do outro. Parte do pressuposto segundo o qual os votos dados a uma candidatura valem mais (ou menos) do que aqueles dados a outra. É o mais antidemocrático dos argumentos: meu voto é melhor que o dele.


Essa prática prosperou no século passado e custou ao Brasil 36 anos de ditaduras durante as quais o povo não escolheu presidente algum.


Agora mesmo, nos Estados Unidos, há milhões de americanos convencidos de que o companheiro Obama pode ser considerado um socialista (55%), nasceu no Quênia, ou na Indonésia (24%), e é muçulmano (20%). Quem pensa assim nesta semana deverá votar contra seus candidatos, mas ninguém milita na contestação da legitimidade do seu mandato.


Dois filósofos do
futebol podem socorrer tanto aqueles que se julgarem vencedores como os que se sentirem derrotados.

Aos vencedores: O melhor time sempre ganha. O resto é fofoca. (Do técnico escocês Jimmy Sirrel.) Aos perdedores: O melhor time pode perder. O resto é fofoca, boa fofoca. (Do professor norueguês Steffen Borge, da Universidade de Tromso, comentando a teoria de Sirrel.)

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