por Júnia Puglia
Está no ar um anúncio na televisão que pergunta se você conhece alguém que desperta feliz, de madrugada, que não fica de mau humor e nunca reclama de não ter tempo pra si mesma. É a sua mãe, claro! Então, dê um celular pra ela no dia das mães, como recompensa por ter deixado de ser humana.
A gente sabe que o objetivo da publicidade é nos apresentar um mundo perfeito, onde tudo é lindo e funciona bem, mas tem que ter alguma conexão com a realidade, senão a mensagem não seduz. O anúncio está simplesmente reforçando uma ideia muito disseminada entre nós de que as mães são abnegadas por natureza, disponíveis, dedicadas, carinhosas e sempre dispostas a renunciar a tudo pela felicidade dos filhos. Se a mulher não era assim antes, passa a ser, instantaneamente, quando se torna mãe, mesmo que a maternidade não tenha sido uma escolha.
Mas eu sou capaz de apostar que todo mundo, incluindo você e eu, conhece muitas mães que não correspondem a esse modelito. E não porque sejam incompetentes ou inadequadas, mas porque são gente. Acontece que, por razões históricas, culturais e religiosas muito antigas, a maternidade está envolta numa aura de santidade, suavidade e disposição permanente para o sacrifício, que é pura mentira. Mas as pessoas gostam de acreditar em mentiras antigas. É conveniente e reconfortante.
Vamos combinar: acordar de madrugada todo dia pra despertar os filhos pequenos (ou nem tanto) e aprontá-los para a escola, que, via de regra, começa às sete da manhã, pode ser tudo menos uma grande alegria. E manter o bom humor com criança chorando, adolescente abespinhado e falta de colaboração do lado masculino da história é uma façanha conseguida por muito poucas.
Ocupar-se totalmente dos filhos, quando não está ocupada no trabalho ou dormindo, é quase sempre inescapável, porque o dia tem as mesmas vinte e quatro horas pra todo mundo. Além disso, há muitas mães que se agarram a essa escassez de tempo pra impossibilitar o cuidado de si mesmas. Uma boa mãe deve dar total prioridade às necessidades dos outros: filhos, marido, pais idosos, familiares doentes, os bichos da casa e o que mais aparecer no cenário familiar precisando de cuidados.
Lembrar que mães – as nossas, as dos nossos filhos e as dos outros – são pessoas com temperamentos, desejos, preferências, expectativas e necessidades tão variáveis quanto o próprio gênero humano, pode nos levar a questionar e, quem sabe, descartar essas bobagens. E, a partir daí, estabelecer com elas relações mais maduras e verdadeiras e, portanto, menos idealizadas.
Estou mexendo num vespeiro, eu sei. Mas não consigo evitar de observar as coisas à minha volta com esse olho demolidor, que às vezes me dá uma dor de cabeça danada.
Ah, e antes que eu me esqueça, mãe trepa, sabia?
Está no ar um anúncio na televisão que pergunta se você conhece alguém que desperta feliz, de madrugada, que não fica de mau humor e nunca reclama de não ter tempo pra si mesma. É a sua mãe, claro! Então, dê um celular pra ela no dia das mães, como recompensa por ter deixado de ser humana.
A gente sabe que o objetivo da publicidade é nos apresentar um mundo perfeito, onde tudo é lindo e funciona bem, mas tem que ter alguma conexão com a realidade, senão a mensagem não seduz. O anúncio está simplesmente reforçando uma ideia muito disseminada entre nós de que as mães são abnegadas por natureza, disponíveis, dedicadas, carinhosas e sempre dispostas a renunciar a tudo pela felicidade dos filhos. Se a mulher não era assim antes, passa a ser, instantaneamente, quando se torna mãe, mesmo que a maternidade não tenha sido uma escolha.
Mas eu sou capaz de apostar que todo mundo, incluindo você e eu, conhece muitas mães que não correspondem a esse modelito. E não porque sejam incompetentes ou inadequadas, mas porque são gente. Acontece que, por razões históricas, culturais e religiosas muito antigas, a maternidade está envolta numa aura de santidade, suavidade e disposição permanente para o sacrifício, que é pura mentira. Mas as pessoas gostam de acreditar em mentiras antigas. É conveniente e reconfortante.
Vamos combinar: acordar de madrugada todo dia pra despertar os filhos pequenos (ou nem tanto) e aprontá-los para a escola, que, via de regra, começa às sete da manhã, pode ser tudo menos uma grande alegria. E manter o bom humor com criança chorando, adolescente abespinhado e falta de colaboração do lado masculino da história é uma façanha conseguida por muito poucas.
Ocupar-se totalmente dos filhos, quando não está ocupada no trabalho ou dormindo, é quase sempre inescapável, porque o dia tem as mesmas vinte e quatro horas pra todo mundo. Além disso, há muitas mães que se agarram a essa escassez de tempo pra impossibilitar o cuidado de si mesmas. Uma boa mãe deve dar total prioridade às necessidades dos outros: filhos, marido, pais idosos, familiares doentes, os bichos da casa e o que mais aparecer no cenário familiar precisando de cuidados.
Lembrar que mães – as nossas, as dos nossos filhos e as dos outros – são pessoas com temperamentos, desejos, preferências, expectativas e necessidades tão variáveis quanto o próprio gênero humano, pode nos levar a questionar e, quem sabe, descartar essas bobagens. E, a partir daí, estabelecer com elas relações mais maduras e verdadeiras e, portanto, menos idealizadas.
Estou mexendo num vespeiro, eu sei. Mas não consigo evitar de observar as coisas à minha volta com esse olho demolidor, que às vezes me dá uma dor de cabeça danada.
Ah, e antes que eu me esqueça, mãe trepa, sabia?
É evidente que as maes trepam, aliás, é o princípío de tudo.
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