sábado, 17 de julho de 2010

Denunciar não leva a proteção, calar alimenta a situação, descoberto não apressa a punição


Mulheres Sim Senhor

Por estes dias noticiários divulgam detalhes das investigações policiais, históricos das vitimas e algozes, famílias em desespero, traumas na infância, carreira meteórica, relacionamentos conflituosos, onde a violência contra a mulher é a conseqüência final de todo um processo. Infelizmente podendo resultar em morte.

Que sociedade construímos? O que podemos fazer para “banir essa realidade” ao mesmo tempo destrutiva, humilhante, degradante? A violência não nasce do dia para a noite, não tem uma única causa, reflete a situação da sociedade atual onde valores foram invertidos. A violência não poder ser entendida somente dentro do lado psicológico, hereditário, na impunidade, no “faço por que me pertence”, na condição de homem e mulher, nos traumas de infância. É complexo por que envolve comportamento. Envolve regras, jogo de poder, fraco e forte, humilhado e sádico! Envolve vários conflitos destes familiares, permissão ou não, liberdade ou escravidão, denunciar ou calar. Sabendo que denunciar não leva a proteção, calar alimenta a situação, descoberto não apressa a punição.

Choca-nos porque fica clara a banalização, o corpo que pode ser descartado, apagado, mutilado, escondido, eliminado por que passou a incomodar! Cria-se um verdadeiro esquema para jogar fora a vida que em alguns momentos proporcionou prazer, alegria, exibição de uma companhia de curvas perfeitas, usada e “abusada” na condição cultural mais antiga: a posse do corpo objeto de prazer sexual enquanto interessar. A violência atinge a nós todos. Deixou de ser restrita a condição de pobre, de alcoólatra, de culturalmente permitido, de ser doutor ou não. Existem milhares de mulheres apanhando, suportando condições humilhantes, escondendo a situação até da família por questão de medo.

Desde quando relações privadas entre um homem e mulher devem aceitar a violência? Onde nasce este pacto entre os casais? Por que ainda mesmo com a criação da Lei Maria da Penha as mulheres continuam sendo vítimas da violência, buscando socorro, denunciando, sem que seus carrascos sejam punidos? Nós mulheres e sociedade de uma maneira em geral precisamos desenvolver meios para que essa situação seja contida. Nós mulheres precisamos desenvolver mecanismos para que políticas sejam desenvolvidas para prevenir, punir e eliminar essa situação inaceitável não só contra a mulher, mas contra toda pessoa.

O silêncio de quem apanha não pode provocar o nosso silêncio diante da situação absurda de violação dos direitos humanos. Não precisamos encontrar uma mulher com marcas de maus tratos para, a partir de então, tomar uma providência. A situação não se resume ao ato violento, ao relacionamento homem e mulher, mas na condição de que um bate e o outro apanha. Podendo um morrer por dentro a cada agressão até chegar à morte física completa e o outro ocupar páginas de jornais e não ser punido. Assisti a uma palestra que para meu espanto o consultor reforçou um antigo preconceito que as mulheres adoram falar e os homens adoram fazer sexo. Provocou risos na platéia reforçando a condição machista na visão de muitos. Este preconceito divulgado anos e anos, ocasionou o que hoje estamos sujeitos: o fim do respeito, a tolerância a situação abusiva onde quem um dia declarou amor, tempo depois manifesta o ódio, podendo até matar mesmo sendo quem gerou seu filho... e ainda ficar impune!

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