quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Yes, Nós (Também) Podemos

A posse de Obama deixou claro mais uma vez que aplaudimos atitudes que não adotamos. Achamos o discurso bonito, louvamos posturas e valores, imaginamos que seria ótimo se fosse conosco. Obama é o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, representante de várias minorias, apresentou um discurso de união, fez promessas de mudança, renovou a esperança por dias melhores e, acima de toda e qualquer outra coisa, chamou todos a participarem como responsáveis, como personagens principais na construção da nação que querem. Nós ficamos do lado da fantasia e não entendemos que tudo que a posse dele representa depende de muito compromisso, trabalho e persistência. E que nós também podemos.

Não me lembro de ter visto notícia alguma sobre a participação de negros no poder executivo municipal. Mas pouco mais de três semanas antes da posse do presidente americano, empossamos mais de 5.500 prefeitos em todo o Brasil. Obama é um marco em uma luta que dura mais de 100 anos que inclui uma guerra civil, o movimento pelos Direitos Civis da década de 1960, Martin Luther King Jr e Malcom X. Enquanto isso, fechamos os olhos para os 120 anos de abolição da escravidão no Brasil, para os 20 anos da Constituição Federal e para quão pouco avançamos.

A diversidade que também nos identifica como brasileiros nem sempre é transferida para nossa realidade política. Obama foi eleito, entre muitos fatores, como alguém que representa as minorias. Ouviu representantes de diferentes religiões, setores econômicos, correntes políticas. Gostamos de dizer que a diversidade é uma de nossas riquezas mas não damos seu devido valor e não a usamos a nosso favor.

A disputa a que assistimos durante a campanha nos municípios só aumentou após as eleições. Enquanto os candidatos competem pelo voto, é saudável e até necessário que se tratem como adversários e como alternativas: um ou outro e pronto. Depois das eleições, todos deveriam trabalhar unidos – ainda que com perspectivas e propostas distintas – para o bem comum. O discurso do presidente dos Estados Unidos é um discurso de união, de construção conjunta, de coletividade. Por aqui é mais difícil reconhecer a disposição para a união.

O desejo de mudança e a renovação da esperança por dias melhores estiveram presentes nas eleições no Brasil e nos Estados Unidos. O problema é que mudança e esperança são muito mais lentos que nossos desejos e necessidades. E parecem ser mais fugazes. É sempre mais difícil, e por isso mais demorado, mudar uma situação, uma realidade do que mudar nossa compreensão, nossa leitura dessa mesma realidade. Não é porque Obama – ou Lucas ou qualquer outro líder do executivo – foi eleito que “seus problemas acabaram”. Mudança exige tempo e energia e, em certa medida, exige que a esperança seja renovada e sirva como seu combustível.

Sim, nós podemos. Nós. Nem Obama, nem Lucas. Nós. Ficar sentado de frente para a Rede Globo aplaudindo a posse de Obama sem mexer um músculo sequer por Patrocínio não vai nos levar a lugar nenhum. Gostamos do protagonismo que Obama atribui às pessoas. Todos são responsáveis e todos precisam trabalhar juntos para construir o que querem. Mas elegemos nossos representantes e, antes mesmo da posse, já tínhamos delegado a eles nosso presente e nosso futuro. O lema de campanha dele Yes, we can é válido por aqui também. Comemoramos a posse do primeiro presidente negro, a inclusão das minorias, o discurso de união, a expectativa de mudança, a renovação da esperança e a participação cidadã lá nos Estados Unidos. A primeira lição pode ser “nós também podemos”.

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