terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Educação é Política

Pensar em educação significa pensar em política. O período de volta às aulas nos convida a refletir sobre o significado da educação em termos de conteúdo, tempo de formação, valorização do conhecimento, produção de conhecimento, mercado de trabalho e em como tudo isso se relaciona à democracia. É através da educação que formamos cidadãos e eleitores. Quando escolhemos a escola de nossos filhos, quanto tempo passam lá, o que estudam, como se organizam, quanto pagaremos professores e funcionários, quais profissões serão melhor remuneradas e quais profissionais terão mais acesso a mercados de trabalho, estamos organizando o poder em nossa sociedade, logo, estamos fazendo política.

A maneira que organizamos o aprendizado talvez seja o mais grave sintoma de como organizamos nossa sociedade. Não é preciso buscar argumentos na pedagogia, psicologia ou na Teoria da Libertação para entender que a idéia de que uma pessoa sabe e ensina enquanto outros ignoram e precisam ser ensinadas demonstra uma relação de superioridade, de hierarquia, de dependência e de poder. Da mesma maneira, estudamos conteúdos que, em muitos casos, não nos ajudam a compreender melhor a realidade local ou global, imediata, passada ou futura. A maneira como avaliamos o conhecimento consolida o mecanismo. Provas, vestibular, concursos, teste de QI, títulos, todos ainda servem para avaliar quem é melhor de prova e não de conhecimento, sua utilidade ou aplicação. Trata-se de quem sabe, o quê sabe e como tem reconhecimento de seu aprendizado, ou seja, de como nos organizamos.

Fomos todos formados dentro desse sistema. Salvo raríssimas exceções de experiências inovadoras e revolucionárias - na medida em que são libertadoras - e dos autodidatas, somos todos herdeiros e reprodutores desses mecanismos. Nós que seguimos adotando os mesmos moldes para aprendermos, ensinarmos, treinarmos, selecionarmos. Seguimos funcionando a partir da premissa de que um lado sabe e outro não e de que isso significa uma relação de poder. Não é diferente com professores e profissionais da educação em geral. Sua formação, a maneira como são selecionados, avaliados e remunerados segue a mesma lógica. Por outro lado, inseridos e tolhidos por essas dinâmicas, têm pouca liberdade para mudar e servem como agentes de reforço e multiplicação. Todos temos pouca liberdade mas temos espaço mais do que suficiente para mudarmos a situação.

É verdade que “educação começa em casa” – para as boas maneiras, como reza o costume – mas principalmente na educação para a vida. Em casa podemos aprender que não dependemos dos pais, dos professores, do patrão, do político. E o que aprendemos em casa levamos para a rua, para a escola, para o trabalho, para as eleições. Saber disso não depende de quantos anos passamos na escola, se somos mestres ou doutores, médicos, advogados ou engenheiros. Na verdade, é comum que quem foi forçado a se virar sozinho e mais cedo – e por isso tenha ido menos à escola – até entenda melhor o que é necessidade, independência e responsabilidade. Para isso, a melhor escola é a escola da vida.

Se educação é a organização do conhecimento, a política é a organização do poder. Não há como negar a relação entre conhecimento e poder. Ter conhecimento é igual a ter poder porque quanto mais aprendemos mais podemos analisar, refletir, questionar, propor, construir, mudar e compartilhar. Pensar é poder e mudar é possível. Conversar com seu filho pode ser o primeiro passo; tentar entender quais matérias ele estuda, porque e como; conhecer outros pais, os professores, o coodenador, o diretor da escola; participar do colegiado e das decisões da escola; integrar-se em suas atividades, estimular atividades extracurriculares, adequar a escola à comunidade. Educação nos ajuda a ver o mundo, política nos ajuda a mudá-lo.

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