quinta-feira, 24 de julho de 2008

Tudo Começou com um Sim. PatroSim.

"Tudo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra e molécula e começou a vida." Assim Clarice Lispector inicia a obra A Hora da Estrela. Ao ler essa frase e as seguintes, alguém teria comentado que "ela joga muito pesado". Concordo. Assumir que a vida começou com um sim é jogar pesado - por um motivo muito simples: dizer sim depende de nossa vontade, logo, as conseqüências são de nossa responsabilidade. Quem somos depende de para quais idéias, pessoas, iniciativas e propostas dissemos "sim". Claro que há mais fatores fora de nosso controle do que aqueles que dependem apenas de nossa vontade. Ainda assim, a vida que levamos é definida pelas coisas que aceitamos e pelas coisas que negamos. Para ficar só do lado positivo, pelos "sim" que dissemos antes e dizemos cotidianamente.

Esse argumento aplicado à vida social, comunitária, cidadã quer dizer, simplesmente, que somos responsáveis pelo lugar onde moramos. A vida que levamos em sociedade depende de quais "sim" dissemos. Há muito alguém disse que o mundo é o que fazemos dele. Melhor ainda, Gandhi disse que é preciso "ser a mudança que queremos ver no mundo". Até aqui, parece, nenhuma novidade. Mas Patrocínio é um reflexo dos nossos "sim"?

Sempre ouço comentários de que aqui não há opções de lazer, não há opções de cultura, que o esporte é fraco, que as organizações sociais são fracas, que a comunidade é desmobilizada, que a política é ruim, que é difícil comprar, é difícil contratar serviços, que a qualidade é baixa, que o atendimento é demorado. Sempre me pergunto a mesma coisa e sempre sou obrigado a fazer a pergunta "o que você e eu estamos fazendo para mudar isso?" Não deveria ser preciso dizer que não se trata de querer resolver os problemas do mundo, de prestar todos os serviços, de mobilizar toda a cidade. Não deveria. Mas é.

Trata-se, nada mais nada menos, de dizer sim às idéias, iniciativas e propostas que trabalham para construir, para transformar Patrocínio em algo mais parecido com o que queremos. É possível apoiar um novo jornal sendo acionista, colunista ou leitor. É possível estimular melhores serviços pagando mais por eles ou reclamando daqueles insatisfatórios. É possível melhorar a produção cultural, a atividade esportiva, as opções de lazer como patrocinador, produtor, apoiador ou como público. Os serviços dependem de como sou como empresário, gerente, funcionário e, claro, cliente. Posso transformar gastando tempo, dinheiro, energia ou só neurônios mesmo. Botando a mão na massa, fazendo sugestões, reclamações e comentários ou mudando minha perspectiva.

Mas talvez o mais importante mesmo seja dizer sim. Adotar uma postura positiva, proavtiva, propositiva. Fazer acontecer não porque resolveu salvar o mundo, mas porque decidiu valorizar as coisas boas. A boa empresa, a boa escola, a boa associação, a boa cultura. Estimular e valorizar o que dá certo e o que ajuda a melhorar. A boa postura. O mais importante é mesmo dizer sim a Patrocínio. Num desses lances de sincronismo, li num livro de Mario Sergio Cortella que "sym" no grego quer dizer junto. Dizer sim, nesse jogo de palavras e de significados, é fazer junto, ir junto, ser junto. E da biologia vem o conceito de simbiose: vidas que funcionam melhor juntas. Orquídeas e fungos em suas raízes, peixes e corais, humanos e lactobacilos. São organismos que se complementam ao viverem juntos. Fica fácil pensar na cidade como um sistema complexo e "orgânico" e a relação que os indivíduos mantêm com ela.

Instigado por tudo isso, ando à procura de notícias de idéias, pessoas, iniciativas e propostas que digam sim a Patrocínio. Lancei o blog PatroSim - patrosim.blogspot.com - para falar de coisas que reflitam melhor o caráter e a força de quem mora e vive aqui. Tudo indica que, no melhor estilo mineiro de ser, os patrocinenses têm trabalhado em silêncio - fazendo muito e aparecendo pouco. Ocupo-me com isso, também, por uma razão simples: eu quero olhar para Patrocínio e ver, participar e contribuir com as coisas boas, coisas que valem a pena. Ou se preferirem, de acordo com outra idéia do Cortella, porque quando eu quero e eu posso, eu devo.


Um comentário:

Anônimo disse...

Olá!Grata surpresa eu tive ao encontrar seus escritos .Aproveito e peço licença para passar adiante seu texto Voto sim .Abraço .Monica Othero Nunes