Ficar em primeiro lugar é sempre gratificante mas pode significar pouco. Salvo as competições diretas, as comparações são a melhor oportunidade para ocupar o primeiro lugar. A menção a Patrocínio como maior produtor de café do Brasil na lista das 40 cidades número 1 do país foi motivo de orgulho por aqui e com razão. A Revista Veja publicou a lista em sua edição 2070 de 23 de julho de 2008 e praticamente todos os veículos impressos e eletrônicos da cidade fizeram alguma menção à primeira colocação. Além de ser a cidade que mais produz café, Patrocínio teve a qualidade do produto reconhecido numa das revistas de maior tiragem e circulação do Brasil.
Mas rankings têm limitações intrínsecas. Ao montar uma lista qualquer, é preciso igualar alguma qualidade: uma lista de compras, uma lista de convidados, uma lista de animais
A maior produção de café do Brasil é um bom resultado para os produtores, claro. Mas é possível questionar se eles comemoram a nota tanto quanto os “não-produtores”. Imagino que eles se preocupem em produzir mais, sim, mas com a mesma quantidade de recursos. Melhor ainda se produzirem mais com menos recursos. Um tanto melhor, se conseguirem melhorar a qualidade e o preço pago pelo café. A maior produção não significa maior produtividade, não significa maior lucratividade, não significa maior eficiência. Se podemos interpretar o resultado pela perspectiva dos produtores, também podemos pensar como Município.
Ser o maior produtor de café do Brasil, certamente, deveria significar alguma vantagem para Patrocínio além de, segundo a Veja, produzir as 34 xícaras de café por brasileiro. Se medimos a produção de café, podemos inferir que nosso 1º lugar trará algum benefício para o município como um todo? Mais impostos recolhidos e convertidos em melhores serviços de saúde, educação e segurança? Atração de mão de obra, tecnologia, investimentos e o conseqüente aquecimento da economia? Melhor estrutura de transporte e energia?
Há uma série de especialistas e publicações tentando descrever e demonstrar a relação entre desempenho da economia com melhoria da qualidade de vida. De modo geral, eles trabalham com fatores que afetam o setor privado como facilidade para abrir e fechar empresas, conseguir empréstimos, contratar mão de obra, aplicar tecnologia e o próprio desenho do mercado entre muitos outros. No detalhe, cada metodologia considera centenas de fatores. Os estudos mais conhecidos são o Relatório Global de Competitividade do Fórum Econômico Mundial e o Doing Business do Banco Mundial. O Brasil ocupa as posições 72 em 131 no primeiro e 122 em 178 no segundo. No nível municipal, o Municipal Scorecard (do IFC) avalia barreiras ao setor privado em 25 cidades brasileiras. Apesar de sua enorme consistência técnica e importância no desenho de políticas públicas, nenhum deles demonstra a ligação entre o desempenho econômico e qualidade de vida.
Ao buscar um indicador melhor, nos deparamos sempre com o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH. O estudo publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD avalia renda, longevidade e educação em 177 países. Quanto mais perto de 1,00, melhor o indicador. O Brasil integra o grupo de desenvolvimento humano alto com 0,800. O IDH-M avalia municípios onde Patrocínio alcança 0,799. Se fosse um país, estaria imediatamente atrás do Brasil mas integraria o grupo com IDH médio devido à divisão dos grupos. No Brasil, entre os 5507 municípios, ocupamos a posição de número 590. Considerando apenas nossa posição na mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e considerando só as 14 cidades principais, temos o 9º melhor IDH-M. No Alto Paranaíba, ocupamos o 4º lugar ficando entre Araxá e Ibiá.
Ranking é o resultado de uma lista de coisas que decidimos colocar juntas e classificar de acordo com critérios que queremos destacar.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Os Louros da Vitória
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