terça-feira, 5 de agosto de 2008

Os Louros da Vitória

Ficar em primeiro lugar é sempre gratificante mas pode significar pouco. Salvo as competições diretas, as comparações são a melhor oportunidade para ocupar o primeiro lugar. A menção a Patrocínio como maior produtor de café do Brasil na lista das 40 cidades número 1 do país foi motivo de orgulho por aqui e com razão. A Revista Veja publicou a lista em sua edição 2070 de 23 de julho de 2008 e praticamente todos os veículos impressos e eletrônicos da cidade fizeram alguma menção à primeira colocação. Além de ser a cidade que mais produz café, Patrocínio teve a qualidade do produto reconhecido numa das revistas de maior tiragem e circulação do Brasil.

Mas rankings têm limitações intrínsecas. Ao montar uma lista qualquer, é preciso igualar alguma qualidade: uma lista de compras, uma lista de convidados, uma lista de animais em extinção. Colocamos coisas iguais em uma lista e, ao darmos uma ordem para essa lista, estabelecemos um ranking a partir de critérios que destacam fatores e aspectos que nos interessam. A lista das maiores empresas, dos lugares com a melhor qualidade de vida ou dos que produzem mais café. A lista na Veja mostrou os 40 primeiros lugares em 40 rankings diferentes que iam de alfabetização a corrida de jegues.

A maior produção de café do Brasil é um bom resultado para os produtores, claro. Mas é possível questionar se eles comemoram a nota tanto quanto os “não-produtores”. Imagino que eles se preocupem em produzir mais, sim, mas com a mesma quantidade de recursos. Melhor ainda se produzirem mais com menos recursos. Um tanto melhor, se conseguirem melhorar a qualidade e o preço pago pelo café. A maior produção não significa maior produtividade, não significa maior lucratividade, não significa maior eficiência. Se podemos interpretar o resultado pela perspectiva dos produtores, também podemos pensar como Município.

Ser o maior produtor de café do Brasil, certamente, deveria significar alguma vantagem para Patrocínio além de, segundo a Veja, produzir as 34 xícaras de café por brasileiro. Se medimos a produção de café, podemos inferir que nosso 1º lugar trará algum benefício para o município como um todo? Mais impostos recolhidos e convertidos em melhores serviços de saúde, educação e segurança? Atração de mão de obra, tecnologia, investimentos e o conseqüente aquecimento da economia? Melhor estrutura de transporte e energia?

Há uma série de especialistas e publicações tentando descrever e demonstrar a relação entre desempenho da economia com melhoria da qualidade de vida. De modo geral, eles trabalham com fatores que afetam o setor privado como facilidade para abrir e fechar empresas, conseguir empréstimos, contratar mão de obra, aplicar tecnologia e o próprio desenho do mercado entre muitos outros. No detalhe, cada metodologia considera centenas de fatores. Os estudos mais conhecidos são o Relatório Global de Competitividade do Fórum Econômico Mundial e o Doing Business do Banco Mundial. O Brasil ocupa as posições 72 em 131 no primeiro e 122 em 178 no segundo. No nível municipal, o Municipal Scorecard (do IFC) avalia barreiras ao setor privado em 25 cidades brasileiras. Apesar de sua enorme consistência técnica e importância no desenho de políticas públicas, nenhum deles demonstra a ligação entre o desempenho econômico e qualidade de vida.

Ao buscar um indicador melhor, nos deparamos sempre com o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH. O estudo publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD avalia renda, longevidade e educação em 177 países. Quanto mais perto de 1,00, melhor o indicador. O Brasil integra o grupo de desenvolvimento humano alto com 0,800. O IDH-M avalia municípios onde Patrocínio alcança 0,799. Se fosse um país, estaria imediatamente atrás do Brasil mas integraria o grupo com IDH médio devido à divisão dos grupos. No Brasil, entre os 5507 municípios, ocupamos a posição de número 590. Considerando apenas nossa posição na mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e considerando só as 14 cidades principais, temos o 9º melhor IDH-M. No Alto Paranaíba, ocupamos o 4º lugar ficando entre Araxá e Ibiá.

Ranking é o resultado de uma lista de coisas que decidimos colocar juntas e classificar de acordo com critérios que queremos destacar.


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