segunda-feira, 6 de abril de 2009

Aquele filme de memórias

Olhar para a História pode chamar nossa atenção para alguns fatos interessantes especialmente agora que comemoramos o aniversário de 167 anos de Patrocínio. Pensar nas primeiras ocupações, na passagem das bandeiras, no momento histórico quando aconteceu a formação da cidade e olhar para o presente é no mínimo curioso e pode ser instigante. É obrigatório, no entanto, evitarmos a tentação do determinismo histórico ou de trajetória. Mas isso não tira a capacidade da História de provocar reflexões sobre o presente e de permitir projeções para o futuro.

Patrocínio surgiu num dos períodos mais importantes da História. Em pouco mais de 100 anos, enquanto os primeiros exploradores chegavam à região bem antes da fundação oficial, o mundo passou pela Revolução Americana, pela Revolução Francesa, pelas Guerras Napoleônicas e duas fases da Revolução Industrial. No Brasil e em Minas, alguns dos principais marcos foram a Inconfidência Mineira, a vinda da Corte Portuguesa, a Independência, o Império, a Guerra do Paraguai e a República. Às vezes somos levados a nos considerar isolados e imunes ao mundo quando nada poderia ser mais distante da realidade.

Nos últimos 100 anos, os processos de mudança se aceleraram muito mas muitas das transformações – e seus desdobramentos – ainda não fizeram todo seu efeito em nós. O modelo agroexportador, a substituição de importações, os processos de industrialização, a passagem para a economia do conhecimento e a primazia do setor de serviços, todas essas mudanças (e muito mais) ainda podem ser questionadas quando avaliamos a realidade do país e, claro, a realidade local. É importante olharmos para bem além de nossas fronteiras.

O povoamento surgiu da necessidade do Estado tributar quem precisava de acomodação e abastecimento ao passar por aqui. Gente em busca de “ouro e índios” viajando entre São Paulo e Goiás que precisava de paradas com alguma estrutura. Hoje há mecanismos muito mais sofisticados para o controle de circulação de mercadorias e serviços e há tributação também da produção, da renda e afins. Mas ainda podemos refletir sobre que tipo de “gente” vem, que tipo queremos ou devemos trazer para cá. Nosso desafio é estimular e atrair empreendimentos que contribuirão para o desenvolvimento sustentável da cidade, pensar em como construir a cidade que queremos, como assumirmos nossa responsabilidade. É pensar em como a cidade pode acomodar e abastecer – mais do que o Estado ou quem passa – quem vive aqui.

É preciso pensar em quem ficou e em como vivem os patrocinenses. Segundo a historiografia oficial, a primeira “obra” realizada por aqui foi a destruição de grandes quilombos. Depois vieram a casa, o monjolo, as roças, o comércio e a capela. Logo nos primeiros anos, Patrocínio foi administrada por uma mulher. Araxá, Patos, Paracatu, Estrela do Sul, Araguari, Monte Carmelo, todos tem íntima relação histórica com a cidade. A participação de minorias na administração, o papel dos líderes do setor privado e dos líderes religiosos serão sempre fundamentais para entendermos como funciona qualquer sociedade. A relação com os vizinhos em toda a região também. É preciso pensar se existe uma identidade patrocinense, se ela é perceptível e como afeta a vida das pessoas e da cidade.

Aquele filminho de memórias na festa de aniversário nos faz pensar no ponto de partida, no caminho percorrido e muda nossa leitura do ponto em que estamos hoje - que não é um ponto de chegada. Ilumina cantos escuros e muda as cores que vemos em nossa realidade. Faz-nos pensar em quanto tempo e energia nos custou para chegar aqui, nos faz pensar para onde queremos caminhar e em como queremos seguir. Faz-nos pensar no que acontece depois que sopramos as (167) velinhas, fazemos nosso desejo e acendemos a luz.

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