segunda-feira, 6 de abril de 2009

Calma, Juízo e Humildade

O recente"> da “ditabranda” e o aniversário de 45 anos do golpe militar de 1964 nos convidam a pensar o papel e postura da mídia na construção de nossa percepção da realidade. Apesar de todas as qualidades de nosso processo de abertura e transição, da constituição que promulgamos e todos os avanços que fizemos desde então, há muitos pontos sensíveis, questões mal resolvidas, concepções e comportamentos repletos de resquícios da ditadura. Muitos deles são transferidos para o “Quarto Poder”.

Para entender melhor a realidade a nosso redor, precisamos ter acesso a perspectivas variadas. O editorial da Folha de S. Paulo tratando da ditadura na Venezuela se referiu à ditadura militar no Brasil usando o termo “ditabranda”. O termo tenta transmitir a idéia de que os níveis de violência política por aqui não foram tão altos, que o regime teria mantido ou criado “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”, que, comparado a outros regimes na América Latina e no mundo, nossa ditadura teria sido amena.

A reação foi intensa. O debate esquentou, virou conflito e, ao invés de reconhecer os exageros e buscar analisar a questão central (da ditadura) os dois lados partiram para a polarização dos discursos e posturas. A democracia que temos hoje foi quem permitiu o debate e garantiu os direitos de quem participou mas as posturas deixaram claro o desrespeito à diversidade e a defesa de interesses se sobrepôs ao compromisso com os fatos.

Para proteger e fortalecer a Democracia, é preciso garantir o acesso a informação e a liberdade de expressão. É mais importante que um veículo, os leitores e os cidadãos em geral tenham a liberdade de adotar e defender seus pontos de vista do que sua obrigação de serem histórica ou politicamente corretos. Cada um fala o que quiser e vive as conseqüências. Notícias que não sejam baseadas em fatos podem ser facilmente contestadas. Ofensas, calúnias, difamação, preconceito, discriminação, incitação ao crime e outros abusos do tipo são proibidos por lei, passíveis de processo e condenação. Aplicar punição quando necessário é parte do esforço para garantir (ordem) informação e liberdade.

À mídia, impressa ou eletrônica, cabe papel dos mais importantes na disseminação de informação. Espera-se que a cobertura jornalística seja isenta, imparcial, que traga informação, dados, fatos, que ofereça elementos para que seu público possa entender melhor a realidade e tomar suas próprias posições. Quando um veículo qualquer permite que suas posições políticas modifiquem as notícias e alterem a precisão de seu conteúdo, parte para manifestações panfletárias ou partidárias, dá versões distorcidas dos fatos e doutrina seus leitores surgem sérios ruídos na comunicação e, dependendo da intensidade, no próprio jogo democrático. Se suas pautas são definidas fora das redações, se todos têm a mesma postura, dão as mesmas notícias, fazem as mesmas análises, certamente há algo errado. Linha editorial e jornalismo podem e devem conviver mas precisam ser claros e ter seus espaços bem definidos e separados.

A imprensa deve se empenhar em melhorar a qualidade e o acesso a informação e, ao mesmo tempo, promover o diálogo. Mesmo que decida representar um público ou setor específico da sociedade, defender seus próprios interesses políticos, defender opiniões, precisa fazê-lo de modo a manter e a proteger sua credibilidade. O melhor conteúdo é melhor para todos. Até por questões comerciais: melhor conteúdo, mais leitores, maior tiragem, mais anunciantes, maior renda. O público não é burro: se não pode confiar no que é publicado, busca outras fontes – e há múltiplas opções de acesso a informação e uma diversidade enorme de opiniões. Como disse Bucci no Observatório da Imprensa, “Um pouco de calma, um pouco de juízo, um pouco de humildade” vão muito bem para ler e também para escrever jornais.

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