terça-feira, 26 de outubro de 2010

Antes que acabe essa campanha...

...sim, meus caros, a campanha. Porque política não acaba nunca!

Direita x Esquerda

Antônio Prata

Depois que o muro de Berlim foi partido em cubinhos e vendido como souvenir, Che Guevara passou a usar o chapéu do Mickey Mouse e a Colgate uniu o mundo num único e branco sorriso, muita gente pensou que esquerda e direita tinham ficado para trás. Dizia-se que, dali em diante, os termos só seriam usados para indicar o caminho no trânsito e diferenciar os laterais no futebol. Afinal de contas, estávamos no fim da história e, como sabíamos desde criancinhas, todos viveriam felizes para sempre.

Mas o mundo gira, gira e – eis aí um grande problema de rodar em torno do próprio eixo – voltamos para o mesmo lugar. Se a história se repete como farsa ou como história mesmo, não faço a menor idéia, mas ouso dizer, parafraseando Nelson Rodrigues (que já foi de direita, mas o tempo e Ruy Castro liberaram para a esquerda), que hoje em dia não se chupa um Chicabom sem optar-se por um dos blocos.

Ah, como fomos tolos! Acreditar que aquela dicotomia ontológica resumia-se à discussão sobre quanto o Estado deveria intervir no mercado (ou quanto o Mercado deveria ser regulado pelo estado, o que vem a ser a mesma coisa, de maneira completamente diferente) é mais ou menos como pensar que a diferença entre homens e mulheres restringe-se ao cromossomo Y. Ou ao comprimento do cabelo.

Estado e Mercado são apenas a ponta de um iceberg, ou melhor, dois icebergs sociais, culturais, gastronômicos, gramaticais, musicais, lúdicos, léxicos, religiosos, higiênicos, esportivos, patafísicos, agronômicos, sexuais, penais, eletro-eletrônicos, existenciais, metafísicos, dietéticos, lógicos, astrológicos, pundonôricos, astronômicos, cosmogônicos — e paremos por aqui, porque a lista poderia levar o dia todo.

Justamente agora, quando esquerda e direita, pelo menos em suas ações, pareciam não divergir mais sobre as relações entre Estado e Mercado (ponhamos assim, os dois com maiúsculas, para não nos acusarem de nenhuma parcialidade), a discussão ressurge lá do mar profundo, com toda a força, como o tubarão de Spielberg.

Para que o pasmo leitor que, como eu, dá um boi para não entrar numa discussão, mas uma boiada para não sair, não termine seus dias sem uma única rês, resolvi enumerar algumas diferenças entre essas, digamos, maneiras de estar no mundo. Dessa forma saberemos, ao comentar numa mesa de bar, na casa da sogra ou na padaria da esquina, “dizem que o filme é chato” ou “como canta bem esse canário belga”, se estamos ou não pisando inadvertidamente numa dessas minas ideológicas, mandando os ânimos pelos ares e causando inestancáveis verborragias.

A lista é curta e provisória. Outras notas vão entrar, mas a base, por ora, é essa aí. Se a publico agora é por querer evitar, mesmo que parcialmente, que mais horas sejam ceifadas, no auge de suas juventudes, nas trincheiras da mútua incompreensão. Vamos lá.

* * *
A esquerda acha que o homem é bom, mas vai mal – e tende a piorar. A direita acredita que o homem é mau, mas vai bem – e tende a melhorar.
A esquerda acusa a direita de fazer as coisas sem refletir. A direita acusa a esquerda de discutir, discutir, marcar para discutir mais amanhã, ou discutir se vai discutir mais amanhã e não fazer nada. (Piada de direita: camelo é um cavalo criado por um comitê).

Temos trânsito na cidade. O que faz a direita? Chama engenheiros e constrói mais pontes. Resolve agora? Sim, diz a direita. Mas só piora o problema, depois, diz a esquerda. A direita não está preocupada com o depois: depois é de esquerda, agora é de direita.
Temos trânsito na cidade. O que faz a esquerda? Chama urbanistas para repensar a relação do transporte com a cidade. Quer dizer então que a Marginal vai continuar parada ano que vem?, cutuca a direita. Sim, diz a esquerda, mas outra cidade é possível mais pra frente. A direita ri. “Outra” é de esquerda. “Isso” é de direita.

Direita e esquerda são uma maneira de encarar a vida e, portanto, a morte. Diante do envelhecimento, os dois lados se dividem exatamente como no urbanismo. Faça plásticas (pontes), diz a direita. Faça análise, (discuta o problema de fundo) diz a esquerda. (“filosofar é aprender a morrer”, Cícero). Você tem que se sentir bem com o corpo que tem, diz a esquerda. Sim, é exatamente por isso que eu faço plásticas, rebate a direita. Neurótica! — grita a esquerda. Ressentida! — grita a direita.

A direita vai à academia, porque é pragmática e quer a bunda dura. A esquerda vai à yoga, porque o processo é tão ou mais importante que o resultado. (Processo é de esquerda, resultado, de direita).

Um estudo de direita talvez prove que as pessoas de direita, preocupadas com a bunda, fazem mais exercícios físicos do que as de esquerda e, por isso, acabam sendo mais saudáveis, o que é quase como uma aplicação esportiva do muito citado mote de Mendeville, de que os vícios privados geram benefícios públicos — se encararmos vício privado como o enrijecimento da bunda (bunda é de direita) e benefício público como a melhora de todo o sistema cardio-vascular. (Sistema cardio-vascular é de esquerda).
Um estudo de esquerda talvez prove que o povo de esquerda, mais preocupado com o processo do que com os resultados, acaba com a bunda mais dura, pois o processo holístico da yoga (processo, holístico e yoga são de extrema esquerda) acaba beneficiando os glúteos mais do que a musculação. (Yoga já é de direita, diz alguém que lê o texto sobre meus ombros, provando que o provérbio correto é “pau que nasce torno, sempre se endireita”).

Dieta da proteína: direita. Dieta por pontos: esquerda. Operação de estômago: fascismo. Macrobiótica: stalinismo. Vegetarianismo: loucura. (Foucault escreveria alguma coisa bem interessante sobre os Vigilantes do Peso).

Evidente que, dependendo da época, as coisas mudam de lugar. Maio de 68: professores universitários eram de direita e mídia de esquerda. (“O mundo só será um lugar justo quando o último sociólogo for enforcado com as tripas do último padre”, escreveram num muro de Paris). Hoje a universidade é de esquerda e a mídia, de direita.

As coisas também mudam, dependendo da perspectiva: ao lado de um suco de laranja, Guaraná é de direita. Ao lado de uma Coca-Cola, Guaraná é de esquerda. Da mesma forma, ao lado de um suco de graviola, pitanga ou umbu (extrema-esquerda), o de laranja vira um generalzinho. (Anauê juice fruit: 100% integralista).

Leão, urso, lobo: direita. Pinguim, grilo, avestruz: esquerda. Formiga: fascismo. Abelha: stalinismo. Cachorro: social democrata. Gato: anarquista. Rosa: direita. Maria sem-vergonha: esquerda. Grama: nacional socialismo. Piscina: direita. Cachoeira: esquerda. (Quanto ao mar, tenho minhas dúvidas, embora seja claro que o Atlântico e o Pacífico estejam, politicamente, dos lados opostos aos que se encontram no mapa). Lápis: esquerda. Caneta: direita. Axilas, cotovelo, calcanhar: esquerda. Bíceps, abdomem, panturrilha: direita. Nariz: esquerda. Olhos: direita. (Olfato é sensação, animal, memória. Visão é objetividade, praticidade, razão).

Liquidificador é de direita. (Maquiavel: dividir para dominar). Batedeira é de esquerda. (Gilberto Freyre: o apogeu da mistura, do contato, quase que a massagem dos ingredientes). Mixer é um caudilho de direita. Espremedor de alho é um caudilho de esquerda. Colher de pau, esquerda. Teflon, direita. Mostarda é de esquerda, catchupe é de direita — e pela maionese nenhum dos lados quer se responsabilizar. Mal passado é de esquerda, bem passado é de direita. Contra-filé é de esquerda, filé mignon é de direita. Peito é de direita, coxa é de esquerda. Arroz é de direita, feijão é de esquerda. Tupperware, extrema direita. Cumbuca, extrema esquerda. Congelar é de direita, salgar é de esquerda. No churrasco, sal grosso é de esquerda, sal moura é de direita e jogar cerveja na picanha é crime inafiançável.

Graal é de direita, Fazendinha é de esquerda. Cheetos é de direita, Baconzeetos é de esquerda e Doritos é tucano. Ploc e Ping-Pong são de esquerda, Bubaloo é de direita.
No sexo: broxada é de esquerda. Ejaculação precoce é de direita. Cunilingus: esquerda. Fellatio: direita. A mulher de quatro: direita. Mulher por cima: esquerda. Homem é de direita, mulher é de esquerda. (mas talvez essa seja a visão de uma mulher — de esquerda).

Vogais são de esquerda, consoantes, de direita. Se A, E e O estiverem tomando uma cerveja e X, K e Y chegarem no bar, pode até sair briga. Apóstrofe ésse anda sempre com Friedman, Fukuyama e Freakonomics embaixo do braço. (A trema e a crase acham todo esse debate uma pobreza e são a favor do restabelecimento da monarquia).
“Eu gostava mais no começo” é de esquerda. “Não vejo a hora de sair o próximo” é de direita.

Dia é de direita, noite é de esquerda. Sol é de direita, lua é de esquerda. Planície é de direita, montanha é de esquerda. Terra é de direita, água é de esquerda. Círculo é de esquerda, quadrado é de direita. “É genético” é de direita. “É comportamental” é de esquerda. Aproveita é de esquerda. Joga fora e compra outro, de direita. Onda é de direita, partícula é de esquerda. Molécula é de esquerda, átomo é de direita. Elétron é de esquerda, próton é de direita e a assessoria do neutron informou que ele prefere ausentar-se da discussão.

To be continued (para os de direita)
Under construction (para os de esquerda)

sábado, 23 de outubro de 2010

"Não verás nenhum país como este"

Por Mônica Nunes

No horário eleitoral gratuito ou nos debates, ainda não ouvi um candidato neste segundo turno, fazer referencia especial ao que é o saneamento básico. Nem a candidata Dilma e nem o candidato José Serra aprofundaram em tal assunto.

Alguns podem dizer : “ - Mas, isso não me interessa, tenho água tratada, piscina em casa, rede de esgoto moderna, saúde em dia, purificador. Isso cabe ao Município!"

É justamente essa divisão entre quem tem acesso e quem não tem acesso que faz o Brasil ocupar a 70ª posição no ranking internacional de desenvolvimento humano. Não adianta considerarmos os emergentes no cenário econômico, os proprietários do pré-sal e da selva Amazônica, o país que mais gerou empregos formais ,que implantou programas de distribuição de renda ,se é real a situação onde inúmeros municípios não só tem a falta de água como a falta do tratamento da água e rede de esgoto .Não adianta petistas “apaixonados”defender a ideia que o PT salvou o Brasil e tem que continuar. Não adianta tucanos vaidosos alegarem que Serra vai administrar o Brasil como fez em São Paulo.

A divisão entre quem tem acesso e quem não tem acesso,continua levando milhares de brasileiros ,principalmente as crianças a sofrerem doenças gastrointestinais, alergias, estado de desnutrição e morte. O numero é alto: 28 mil brasileiros morrem por ano em consequência de doenças relacionadas a falta de saneamento básico. Quando fui entrevistada pelo recenseador do IBGE para o Censo 2010 ouvi a pergunta:

“ - Sua casa tem fossa?

Respondi: “- Fossa? Isso é coisa do passado. Moro no centro da cidade”

Veio a reposta:

“_Não é coisa do passado não, aqui no Município de Patrocínio ainda existe Como também é expressivo o número de adultos analfabetos. Estes dois dados me surpreenderam" respondeu o recenseador.

“- Esse é o Brasil dentro de outro Brasil", respondi.

Quem nunca visitou um lugarejo onde havia antena parabólica, acesso a internet, sinal para celular, coca-cola à vontade, lanhouse e não havia nem água tratada e nem rede de esgoto?

Quando o Município precisa investir o lado financeiro na maioria das vezes não vem do Governo Federal e sim, da própria arrecadação municipal. .Como este setor necessita de um alto valor, a situação vai sendo levada e não solucionada. O que a população não vê não recebe o crédito, nem causa efeito eleitoreiro. Diferente do setor da informática, construção civil, empréstimos bancários, telefonia móvel, unidade de saúde. O que significa não somente necessidade de proporcionar saneamento básico, mas o direito a essa condição de todo ser humano. Neste contraste de Brasil fico na esperança de ouvir um candidato à presidência fazer uma análise dessa situação, a implantação de ações em conjunto em todos os Estados. Cobrar tarifas parece ser o único caminho, mas investimento? Cadê o investimento?

Quando desce a água do céu, a TV mostra e divulga: “o esgoto percorre os barracos, os roedores invadem, o mau cheio é terrível!”Aí levam os moradores para outros lugares até a água baixar e tudo fica como está até a próxima estação de chuva e outros voltarem para o mesmo lugar, na mesma falta de condição.

A questão não é resolver só num Município, mas no Brasil todo. A questão envolve meio ambiente, coleta de lixo e tratamento, preservação. Estava conversando com duas pessoas entendidas em questões ambientais. Conversa vai e conversa vem, a pergunta foi direta:

“- Por que sua cidade tem poucas árvores? Vocês não procuram os vereadores, secretário, o prefeito para ações que visem esse falta de verde?

E mais:

“- Como é feito o trabalho de manutenção das nascentes? A questão do meio ambiente existe ou não existe? Vocês acham que aqui tem qualidade de vida? Vocês precisam cobrar mais dos políticos. Já já a mineração começa. O dinheiro arrecado, pode ser algo significativo, mas não vai deixar de ser algo que precisa de ações de preservação ambiental."

Repasso essas perguntas para você leitor e aos homens públicos. Quando comecei este texto questionava por que nem o candidato José Serra e nem a candidata Dilma assumem a questão do saneamento básico? Mas diante dessa pergunta me vem o ensinamento de Olavo Bilac: “Não verás nenhum país como este!”.

Expocaccer agora está nas redes sociais


Aderindo às novas mídias e ao crescente mercado da internet, as notícias da Expocaccer agora podem ser encontradas no Facebook, página de relacionamento com notícias e álbum de fotos, e também no Twitter, também uma página de relacionamentos, porém com notícias curtas, focando mais nas notícias de mercado.

Facebok: http://www.facebook.com/profile.php?id=100001731890464#!/profile.php?id=100001731890464&v=wall

Twitter Expocaccer: http://twitter.com/Expocaccer

Contagem regressiva para a ‘Noite Italiana’

A contagem regressiva para um dos mais aguardados eventos do ano em Patrocínio está quase chegando ao fim. Acontece no sábado, 30 de outubro, a Noite Italiana, quando são aguardadas centenas de pessoas para curtirem um evento especial e ainda darem sua parcela de contribuição a quem precisa.

É que toda a renda será revertida para a compra de brinquedos que serão distribuídos para crianças na Chegada do Papai Noel a Patrocínio, no dia 11 de dezembro. A realização é da ACIP/CDL Jovem, com apoio do Conselho da Mulher Empreendedora e ACIP/CDL Master.

O evento começa às 20h no Rotary Club Brumado dos Pavões. Haverá comida e bebida típica italiana, além de música ao vivo italiana e também sertaneja, com Jeferson e Rafael. “Em nome da diretoria da ACIP/CDL Jovem convidamos toda a população patrocinense para conseguirmos o máximo de recursos para quem mais precisa”, comenta Willson Botelho, responsável social da ACIP/CDL Jovem.

Ele lembra que outro destaque será a decoração típica da Itália. “Estamos empenhados em fazer um evento de muita qualidade e diferenciado em Patrocínio”.

A mesa pode ser adquirida antecipadamente por R$ 100 (para quatro lugares) com os integrantes da ACIP/CDL Jovem ou pelo 3831-5500.

São parceiros da Noite Italiana a Coopa Jovem, Lions Lililia Brandão, Rotary Brumado e mais de 20 empresas preocupadas com a responsabilidade social em Patrocínio.

[Agenda]
Evento: Noite Italiana
Data: 30 de outubro (sábado)
Horário: 20 horas
Local: Rotary Brumado
Reservas de Mesas: 3831-5500
Realização: ACIP/CDL Jovem com apoio do Conselho da Mulher Empreendedora e ACIP/CDL Master

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Do que (ou de quem) você tem medo

Alguns trechos de "A Pastoral do Medo", de Paulo Brabo, sobre manipulação, dominação, a participação da igreja e, como consequencia mais imediata e mais importante, as escolhas que fazemos...

Se o assunto não te dá medo, pode ser que você queira ir direto à fonte para ler o texto na íntegra.

"Há um bom motivo pelo qual o alarmismo é contagioso e irresistível, e se espalha como a peste pelas veias da internet; há um motivo pelo qual os pregadores invariavelmente demonizam seus adversários, e afirmam haver gigantes insaciáveis onde ficará demonstrado haver moinhos de vento: semear o medo torna as pessoas vulneráveis, e gente vulnerável pode ser manipulada.

O medo só é capaz de dominar quem tem alguma coisa a perder; quem não tem nada a perder não tem a nada temer. Esta é uma equação delicada, especialmente num país como o Brasil, em que a distribuição de renda está entre as dez mais desiguais do mundo (e é um mundo grande): há sempre o risco de que os que não tem nada a perder se levantem contra os que tem tudo a perder.

Em todo o mundo, mas especialmente num país com a nossa história, a classe média ocupa mais ou menos o espaço que ocupava a nobreza nos tempos medievais e coloniais. E, como sabemos o que aconteceu à nobreza em insurreições como a Revolução Francesa, a classe média adentrou a era moderna imbuída de um medo que lhe é absolutamente característico e essencial: o medo da perturbação social.

A classe média sabe desejar o progresso e é capaz de assimilar a mudança, porém (exatamente como a nobreza antes dela) tem absoluto horror à desordem. Seu mundo de shopping centers, de ambientes de ar condicionado e de seguranças na porta (a fim de manter os incompatíveis à distância) deve ser resguardado a todo custo. Passeatas, quebra-quebras, invasões de sem-terra, ladrões que levam o iPad e revoluções de gente faminta devem pertencer ao domínio ilustrativo dos filmes de zumbi. Na verdade, já o constrangimento de ser abordado por uma criança de rua na esquina deve ser aplacado pelo uso preventivo de carros blindados e vidros escuros.

A estabilidade social, entendida como a manutenção de um estado de coisas em que uma minoria administre e se beneficie de recursos que são de todos, é o valor por excelência da classe média. Não há outra verdade eterna que ela esteja disposta a defender.

O medo da perturbação social, no entanto, é genérico demais e precisa encontrar ícones que os encarnem de modo satisfatório. É preciso pulverizar o nosso medo essencial atribuindo-o a culpados e demônios.

E, se quisesse manipular nos nossos dias uma burguesia absolutamente aterrorizada diante da possibilidade de perturbações sociais, que alvos você elegeria? Deixe-me ajudá-lo: elejamos os homossexuais, os que defendem o aborto, os sem-terra, os comunistas.
1

Cada uma dessas categorias representa, à sua maneira, uma formidável possibilidade de perturbação social; cada uma, à sua maneira, materializa uma ameaça à tranquilidade O que a classe média teme são perturbações sociais. sanitizada do indefectível universo burguês, em que nada é sujo, nada é feio, nada é controverso e nada é constrangedor.

E que ameaça maior do que um mundo em que a união civil entre homossexuais denuncie diariamente o caráter relativo e historicamente determinado de soluções de convívio que a sociedade toma por normativas? O que parecerá mais perturbador do que um mundo em que gente do sexo masculino ouse definir a sua relação mútua pela afetividade e não pela agressividade e pela competição? Um mundo em que mulheres ousem prescindir do homem para encontrar a sua satisfação sexual e emocional?

Do mesmo modo, será preciso avaliar a ameaça de um mundo em que o aborto exista sequer como possibilidade. Porque este mundo irá postular como legítimo que a mulher exerça controle sobre seu próprio corpo e sobre seu próprio prazer, e esses domínios pertencem por tradição ao âmbito do seu homem.

E que dizer dos sem-terra e dos comunistas, que blasfemam do próprio capitalismo e querem virar o mundo do avesso, ignorando os privilégios milenares da propriedade, da classe social e do lucro, e isso em favor de uma ameaça tão declarada quanto a “igualdade social”? O que pode ser mais inaceitável do que esse ataque direto à estabilidade – à própria existência – do mundo entrincheirado da burguesia?2

Se é para preservar o presente mundo das perturbações sociais, será necessário negar qualquer igualdade de direitos civis aos homossexuais, chamando sua demanda de ditadura gay; será preciso abominar o aborto acenando com a bandeira pró-vida, ao mesmo tempo em que escondemos atrás dela os recursos que financiam a morte nas guerras e o horror das crianças vivas que passam fome patrocinada pelo capitalismo; será preciso rejeitar qualquer iniciativa que altere desfavoravelmente (para nós) a distância de segurança entre as castas, tachando-as de paternalismo, assistencialismo, compra de votos e introdução gradual da doutrina comunista.3

O problema de uma comunidade dominada pelo medo é que ela pode ser manipulada a ceder a gravíssimas injustiças em nome da preservação de sua tranquilidade idealizada. Dessa forma a Alemanha abraçou de bom grado o discurso nazista, por medo das perturbações sociais encarnadas na ameaça do comunismo e numa suposta dominação judaica mundial. Dessa forma a Itália dobrou-se servilmente ao fascismo e o Brasil à ditadura militar, porque esses autoritarismos berravam ameaças de uma impensável sublevação e de uma horrendo nivelamento societário. E, como era de se esperar, esses movimentos de terror contaram com o apoio aberto – e, em alguns casos, o constrangido silêncio – da igreja.

Em que somos menos manipuláveis do que a Alemanha nazista, se tememos as mesmas coisas? Os nazistas temiam que os judeus imprimissem no mundo seus valores, sua supremacia e sua estética, e nós tememos que os homossexuais implantem nele a sua agenda; os nazistas temiam que os comunistas aplainassem as classes ao ponto de uma completa descaracterização nacional, e nós tememos a mesma coisa. Somos nós a cidade sitiada, e o que nos conforta são os gritos do clero explicando o que devemos temer – e assim o que devemos odiar.

Quando adotamos o discurso do medo, portanto, estamos tentando imprimir sobre a proposta impoluta e subversiva do reino marcas que são incompatíveis com a sua essência e com a sua herança. Porque o Novo Testamento não deixa espaço para dúvida: igreja não é quem teme a perturbação social, mas quem a provoca. Igreja não é quem promove o medo, mas quem o aplaca e o anula pela inclusão e pelo amor. “O amor lança fora todo o medo”, ousou proclamar a provisão imprudente do Espírito.

E nós, o que fazemos? Enquanto a igreja exemplar do livro de Atos aprendia, passo a passo, a incluir o diferente e o tido previamente como inaceitável (a mulher, o aleijado, o eunuco, o gentio), nós demonizamos como inaceitável o homossexual. Enquanto a igreja exemplar do livro de Atos adotava todo o tipo de medidas distributivas e postulava um reino definido pela equidade, nós condenamos como comunismo e como Satanás a mínima provisão que vise apenas desbastar os abismos da distribuição de renda.

E nisso, que fique muito claro, vamos escolhendo aqueles medos que nos mantenham a salvo da nossa vocação."

NOTAS

1. Na Europa e nos Estados Unidos seria necessário incluir nesta lista os muçulmanos e os imigrantes.

2. Uma sociedade justa é uma em que, por definição, não existe mão de obra barata. Conversei esta semana com um empresário que estava estarrecido diante da sua dificuldade de encontrar gente disposta a trabalhar na base da pirâmide pelo salário que ele costumava oferecer. Diante de seguranças de fundo como salário desemprego e bolsa-família, os desqualificados do sistema estão pensando duas vezes antes de se submeter a uma posição desumanizante e pouco promissora. Esse empresário sentia-se pressionado a ou aumentar os seus salários ou diminuir os seus lucros, e ambas as soluções o apavoravam, porque emblemavam e estavam fundamentadas numa perturbação social. Seu mundo de enriquecimento rápido baseado na submissão voluntária dos mais fracos estava sendo ameaçado, e seu patrimônio corre o risco de não dobrar nós próximos anos. Nada o deixava mais desconcertado e temeroso.

3. Pode ser necessário lembrar que o anarquista que existe em mim recusa-se a reconhecer a legitimidade de soluções legislativas ou políticas para quaisquer dessas questões. Na verdade rejeito a supremacia de qualquer solução política. O que reconheço é que o movimento colocado em movimento por Jesus e por suas testemunhas (movimento que aclamava contra o senhorio de César um rei primeiro descalço, depois invisível, e maquinava a implantação nesta terra de um reino que não é deste mundo) pressupõe e instaura o fim de todos os governos.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

domingo, 3 de outubro de 2010

1o Festival ao som do gunga - 4 a 7/11

De 04 à 07 de novembro de 2010; workshop , batizados, apresentações, rodas, muito dendê e muito axé Presenças: Mestre Suassuna, Mestre Sarará, Mestre Ponciano, Contramestre Esquilo, Contramestre Fuinha e muito mais...
Contatos: (34) 8803-0860

4/11 às 18h
Entrega de Cordões Cras de Cruzeiro da Fortaleza
Poliesportivo Pedro Roque

05/11
às 17h
Entrega de Cordões Colégio Atenas
Colégio Atenas

às 19h
Entrega de Cordões Sistema Polis de Ensino
Salão do Parque de Exposições de Guimarânia

às 20h30
Roda na Praça Santa Luzia

06/11
às 9h
Entrega de Cordões Colégio Monteiro Lobato
Poliesportivo do Catiguá

às 13h
Entrega de Cordões Escola Infantil Balão Mágico, Catiguá Tênis Clube, Creche Pedro Bernardes Dias, Cras Geraldo Tuniquinho, Programa Arte Cidadã
Poliesportivo do Catiguá

às 15h30
Entrega de Cordões Capoeira Especial, Programa Arte Cidadã
Poliesportivo do Catiguá


às 19h
Aula com Mestre Suassuna
Chácara Berlaar - Chácara das Irmãs

711 às 8h
Aula com Mestre Ponciano, Contramestre Esquilo e Contramestre Fuinha
Chácara Berlaar - Chácaras das Irmãs

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Em tempo... outra de outros tempos (?)

Outro velho, aliás, velho demais e ainda atual... demais:

"Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles gostam."

Platão

O Analfabeto Político

O texto é velho... mas a ideia é muito atual:

O Analfabeto Político
Bertold Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.