Essa semana tive a grata surpresa de participar de uma longa conversa sobre Pica-pau, Chaves e Street Fighter. Que fique muito claro que não estávamos falando de aves ameaçadas, política venezuelana e boxe clandestino. Antes disso, alguém me chamou a atenção, mais de uma vez e cada vez com mais intensidade: “Você está muito sério. Você precisa relaxar. Você precisa rir mais!” Ainda antes, tive outras conversas sobre como é bom passar tempo livre com amigos fazendo o que gostamos. Ou, repetindo uma citação sempre usada por uma amiga que adora filme infantil e desenho animado, tive conversas sobre como é bom passar o tempo “vendo besteira e comendo porcaria”... sendo criança, sendo feliz.
Não estou falando de um tempo sem responsabilidades ou preocupações. Não estou estimulando o saudosismo e a nostalgia. Não é isso que estou perguntando. Também não estou pensando em gente que não amadurece nunca, que se recusa a crescer. Não estou falando de Síndrome de Peter Pan nem de resgate da inocência. Não estou pensando em nenhuma dificuldade de desenvolvimento. Não estou pensando em nenhuma resistência em lidar com o mundo ou pensando em negar as lições e os golpes que a vida nos dá. O mundo é o que fazemos dele e qualquer criança sabe disso. Estou falando de outra coisa.
Estou pensando mesmo é se é possível proteger essa capacidade de ser divertido, de se divertir, de não se preocupar com tudo, de não se levar assim tão a sério. Estou pensando se é possível manter essa capacidade natural, espontânea e inata de ser feliz. Estou pensando se é possível se proteger das frustrações criadas por expectativas impostas e externas a nossas necessidades. Estou pensando nessa INcapacidade de ser DESonesto com o mundo e, especialmente, consigo mesmo. Estou pensando se nós podemos, queremos e se damos conta de sermos crianças para sempre sendo os profissionais, pais, cidadãos que devemos ser. Consigo pensar em muitos exemplos que tenho em meu círculo de convivência. Dos 18 aos 60 anos... e até mais. Não sei exatamente como eles fazem isso... mas sei que é possível porque vejo acontecer. Vejo muita gente que mantém essa molecagem sadia muito bem protegida e, sempre que possível, a deixa transparecer e vir à tona. Estou pensando se dá para passar para os outros... será que isso pega?
Pensei em músicas que falam de crianças e “O Meu Guri” do Chico Buarque foi a primeira que me veio à mente. A música é uma obra-prima e, infelizmente, muito realista e atual. Mas não é, nem de longe, do que eu queria falar. Pensei automaticamente em “Bola de Meia, Bola de Gude”, do Milton Nascimento, e fiquei “igual criança” quando li que há um moleque que “fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir”. Concordei quando li que “não posso, não devo, não quero viver como toda essa gente insiste em viver / Não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal”. Acho que é isso que vou fazer para comemorar o Dia das Crianças. Vou procurar o menino que “Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão” e vou seguir o exemplo do Gonzaguinha em “O que é? O que é?” Se dá para ser feliz para sempre? “Eu fico com a pureza da resposta das crianças.”
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