terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Cuidado! Formadores de Opinião

Nada como encontrar alguém falando a mesma língua, pensando nos mesmos assuntos. E, de preferência, que essa pessoa discorde de você. Nada melhor do que gente que discorda. Desde que discorde com propriedade, argumentos, idéias, opiniões próprias. Próprias? Tenho um amigo que sempre reforça que uma idéia lançada deixa de ser de quem a lançou e passa a ser “do mundo”. Essa semana conversava com outro amigo que se indignava com a simples idéia de que alguém possa se considerar “formador de opinião”. Ele insisitiu: “opinião a gente forma é com um negocinho que tem aqui dentro, ó!” e apontava para a própria cabeça. Achei que era hora de trazer esse assunto para uma coluna de opinião e, deixar bem claro, que concordo com ambos. Mais uma vez, recorro ao sarcasmo e provocações de Paulo Brabo mas antes recupero um texto publicado nessa coluna em julho que trouxe as máximas: “Sobre estar sempre certo? Não desejo a ninguém. Sobre a Bacia [das Almas] (e sobre o PatroSim): Aqui discutimos coisas que têm o enorme mérito de interessar apenas a nós mesmos.”

Campanha de Desopinionização, por Paulo Brabo


Numa verdadeira democracia o único princípio mais fundamental que a liberdade de expressão deve ser, naturalmente, a liberdade de pensamento. O direito da outra pessoa se expressar termina onde começa o seu direito de pensar por si mesmo. Se você refletir bem, verá que quando expressa abertamente a sua opinião você está tacitamente condenando a opinião da pessoa que discorda de você: está, na melhor das hipóteses, causando constrangimento; na pior, está coagindo um agente livre a alterar suas próprias crenças e valores em favor de uma opinião alheia – e o que é pior: a sua. Nada é mais tendencioso do que uma opinião. O paradoxo da democracia, portanto, é que todas as vezes que emite uma opinião você está ferindo a liberdade de pensamento de outra pessoa.

A fim de resolver esse problema, em países mais civilizados que o nosso a liberdade de expressão já foi totalmente suprimida em favor da liberdade de pensamento. Para que todos sejam livres para pensarem como quiserem, ninguém deve ter a liberdade de expor a sua opinião para quem quer que seja. Visto que nada é mais perigoso do que uma opinião errada, e nada é mais prejudicial à inalienável liberdade de pensamento do ser humano que ser submetido a uma opinião contrária à sua, cabe ao governo livrar os cidadãos desse constrangimento. Tendo em vista a sereníssima e recente legislação que preconiza o desarmamento da população civil, considero pertinente dar-se início a uma campanha paralela de desopinionização da sociedade brasileira.

Creio que o governo deveria, antes de se importar com ninharias como as armas de fogo, dar prioridade a impedir a circulação desenfreada de opiniões, argumentos e idéias que vemos hoje. A nova lei deveria proibir o porte de opiniões por civis, com exceção para casos onde há ameaça à vida da pessoa. Antes do desarmamento deveria vir a desopinionização. Se tudo acontecer como prevejo, somente poderão andar munidos de opiniões os responsáveis pela garantia da segurança pública, integrantes das Forças Armadas, policiais, agentes de inteligência e agentes de segurança privada. E civis com porte concedido pela Polícia Federal.

Quem for pego empunhando sua opinião sem o devido porte será preso. O porte ilegal será crime inafiançável. Só pagará fiança quem for pego expressando opinião de uso permitido e estando registrada em seu nome. Se o porte ilegal for de opinião de uso restrito, além de ser crime inafiançável, o réu não terá direito à liberdade provisória. O mesmo tratamento terá quem praticar a propagação ilegal de idéias e o tráfico internacional de opiniões. As opiniões apreendidas ou entregues pela população serão destruídas pelo Comando do Exército.

Das opiniões que já expressei livremente, esta deverá portanto ser a última. Apenas a sua liberdade de pensamento vale que eu cale a boca.

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