domingo, 6 de dezembro de 2009

Sexo, Drogas e Rock n’ Roll

Nada como um “tabuzinho” básico para apimentar as relações. Relações entre idéias, que fique claro. E essa fórmula famosa e repetida serve bem para minhas provocações crônicas especialmente quando escrevo entre o Dia Internacional de Combate à Aids e o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Nos últimos tempos, ouvi esse lema ser evocados algumas vezes, vi o lema ser praticado muitas outras. Mas vi muito pouca gente, ou quase ninguém, falando sobre sexo, drogas e rock n’ roll, ou se preferirem, sobre Aids e Direitos Humanos.

Pode ser que eu esteja conversando com pessoas muito bem informadas e bem resolvidas. Ou então, como diria o Cazuza (que morreu de Aids para quem não se lembra), posso estar andando com gente muito “careta e covarde”. Acho que vou sair na rua e fazer algumas perguntas a pessoas completamente estranhas sobre Aids. Sim, vamos começar com a Aids. Vou perguntar para as pessoas o que elas sabem sobre Aids, HIV, formas de contágio, formas de prevenção. Vou perguntar para as meninas se elas se lembram do Rodrigo Santoro na campanha “Fique Sabendo” de incentivo ao teste. Lembram? E dele no filme Carandiru? E que o filme foi baseado na experiência do Dráuzio Varella no trabalho de combate à Aids.

Todas perguntas muito inocentes. Aliás, inocentes demais. Acho que eu vou é perguntar se as pessoas já fizeram o teste alguma vez. Se sabem se o último teste “já venceu”. Vou perguntar se sabem quanto tempo tem de esperar entre o comportamento de risco e um teste. Se já conversaram com amigos, namoradas, esposas, maridos, amantes sobre Aids. Se sabem onde fazer o teste, se sabem onde pedir informação. Se “tem isso em Patrocínio?”. Tem o quê? Aids ou teste? Vou perguntar se conhecem algum paciente ou algum soropositivo, se o convidariam para almoçar em suas casas, se o cumprimentariam com um aperto de mão, com um abraço, com um beijo.

Papo chato. Aids. Ninguém quer falar de Aids. Pior ainda se começar com aquela história de camisinha. Pronto. Agora é que o negócio desandou mesmo. Imagina! Camisinha? Tudo bem. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e o Ministério da Saúde se uniram para “mobilizar suas pastorais e movimentos religiosos, além da rede de saúde e meios de comunicação, para sensibilizar os fiéis sobre a importância da testagem para Aids na população geral e para sífilis entre as gestantes.” A ação é inédita, histórica e para lá de louvável. Acho que vou visitar as paróquias, pedir a benção e agradecer aos padres daqui. Mas daí às tradicionais famílias de respeito, protetoras da moral e dos bons costumes, conversarem sobre sexo, camisinha, doenças sexualmente transmissíveis e, Deus, Aids? Gravidez, aborto, abuso sexual, estupro? Adultério, prostituição, promiscuidade? É domingo? Liga no Faustão para a gente não ter que conversar.

Rapidinho vai chegar dia 10, Dia Internacional dos Direitos Humanos. “Coisa de gente que gosta de proteger bandido”. Dói até de escrever... mas, vai saber o que se passa na cabeça das pessoas. Direito à vida, igualdade, liberdade, justiça, pensamento, religião, acesso à justiça, à cidadania. Parece mesmo coisa de bandido. Foram todos incorporados na nossa Constituição há 21 anos. Mas quem ia querer proteger esse tipo de direitos? Papo chato de novo. Quer ver que agora ele vai começar a falar de como o cara enche a cara de cerveja, se esquece da camisinha e contamina a esposa na noite semana seguinte? Quem se lembra da campanha que falava do “José que amava Maria que amava Carlos que amava Joana que amava o Marcio que amava... que morreu de Aids”? Sabem como a gente não fala sobre isso porque, da boca para fora, estamos todos interessados mesmo é em sexo, drogas e rock n’ roll?

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