quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Cheiro de Infância

Causos e Trens

Que surpresa a minha, quando fui outro dia ao Mercado Municipal e vi sentado frente a uma das lojas, o Sr Inácio. Quase não acreditei. Não resisti, é claro, e fui falar com ele.

O senhor Inácio é um personagem que fez parte da minha infância e com certeza de muitas outras pessoas de Patrocínio. A quitanda dele ficava no alto da Avenida Rui Barbosa. Lembro-me exatamente daquele cheirinho bom que era a mistura de todas as cores, frutas, cheiros, verduras e sabores , também me lembro das viagens de trem que fazíamos para Belo Horizonte. Talvez não estejam entendendo tal associação, mas é que havia uma época em que aqui em Patrocínio, só o Senhor Inácio vendia maçãs argentinas, aquelas que vinham embrulhadas em um papel de seda roxo-azul-estranho, e não sei por que, minha mãe sempre comprava maçãs quando íamos viajar. Só sei que era um cheiro indescritível. Acho que era o cheiro da maçã juntamente com o cheiro da infância e também da venda do Seu Inácio. Era de fato o cheiro do paraíso. E só quem já desembrulhou uma daquelas maças, irá entender o que estou falando, e com certeza o Caetano Veloso vai traduzir melhor o que eu tentei explicar:


Trem das cores

A franja da encosta cor de laranja
Capim rosa-chá
O mel desses olhos, luz, mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra
A prata do trem
A lua e a estrela
Anel de turquesa
Os átomos todos dançam, madruga
Reluz neblina
Crianças cor de romã entram no vagão
O oliva da nuvem chumbo ficando pra trás da manhã
E a seda azul do papel que envolve a maçã
As casas tão verde e rosa que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul quase inexistente, azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar (...)

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