quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Libras

Mônica Othero Nunes

Tomando conhecimento da parceria Unicerp (curso de Fonoaudiologia) e Dom Lustosa no projeto “Comunicando através da LIBRAS”, relembro situações vivenciadas onde constato que todos nós somos deficientes. Mero engano achar que deficiências físicas são as deficiências verdadeiras, as que trazemos dentro de nós onde só nós conhecemos, causam danos maiores do que as expostas através do corpo e da mente.

Este Projeto é de um valor enorme uma vez que o mundo das pessoas consideradas com deficiência (auditiva, linguagem, mental, visual, psíquica, locomotora) tem as mesmas carências de todo ser humano: respeito, dignidade, amor, aceitação, inclusão social, acessibilidade, não é porque as deficiências são visíveis que o ser que as tem perde os sentimentos.

Não concordo com termo deficiência, por diversos fatores, a começar pela condição gerada de preconceito, onde repassam erroneamente que só é integral quem é "perfeito". Mas, qual ser humano é totalmente perfeito? Existe, de fato, perfeição?

Quantas vezes as pessoas deficientes são vitimas de situações onde tem a sua deficiência exposta e isto é motivo para o riso e piadas?

"Ah é aquele surdinho ali... Pode gritar com ele."

"Tadinho ele até parece normal... Mas, é cego."

"Eu já te avisei você pode até casar com ele... Mas filhos? Vocês não vão poder ter!"

"Bobagem estudar tanto, emprego tá difícil para quem é normal, ainda mais para ele que não fala."

"Deus me livre de ter um filho deficiente."

Poderia continuar descrevendo inúmeras situações, mas prá quê?

Dói em mim essas situações de preconceito!

O melhor é tentar mobilizar toda a sociedade para a eliminação de todas as barreiras existentes para as pessoas portadoras de necessidade, a começar em casa, na família, na escola, na comunidade em geral, dentro de cada um.

Perceber, dentro de si, que o preconceito é a maior deficiência que pode existir.

Barreiras físicas, psíquicas, comunicativas, emocionais... Quem não as possui?

Os obstáculos são muitos desde a discriminação, as barreiras arquitetônicas, inclusão social (ou a exclusão), transporte público, infraestrutura precária da cidade, emprego, prática da legislação, locomoção.

Precisamos refletir como nossa cidade percebe a questão do portador de necessidade. Como o Poder Público estrutura seus planos de ações em relação ao portador de necessidade? Quantos "deficientes" ocupam algum cargo público neste Município? Será que existe viabilidade arquitetônica? Será que é garantido às pessoas "deficientes" os mesmos direitos dos considerados "normais"? Qual tratamento recebem? Terão direitos garantidos, efetivamente, por leis?

Converse com alguém considerado "deficiente" para saber. Tente caminhar nesta cidade sem o sentido da visão?

Tente imaginar você como cadeirante se locomovendo entre carros, motos, bicicletas e cachorros.

Tente usar o serviço oferecido para deficiente auditivo para comprar uma passagem, fazer uma reclamação? Será que do outro lado tem alguém para atêndê-lo?

São 26 milhões de pessoas no Brasil consideradas deficientes, apenas 2% conseguem trabalhar e ter vida ativa.

Existe a possibilidade que a Lei assegura de 2% a 5% das vagas para deficientes em empresas que tenham acima de 100 trabalhadores, mas a situação real está longe. O direito à vaga não é favor é DIREITO adquirido, sem a prática, infelizmente!

Por isso acredito que o fator comunicação é por si um fator social.

Por isso acredito que não preciso ser taxado de deficiente por uma alteração qualquer quando sou consciente do caminho que quero seguir. O primeiro passo é aceitar um mundo sem som... Mas, um mundo vivo e comunicativo do seu jeito!

Então me candidato a fazer o curso de libras, quem sabe consigo entender melhor as pessoas e a minha pessoa... Eta... Vai ser um desafio!

Torno a citar Cazuza: "Olhe o mundo com a coragem do cego, entenda as palavras com a atenção do surdo, fale com a mão e com os olhos, como fazem os mudos!"

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